domingo, 28 de novembro de 2010

Revelações do livro-entrevista de Bento XVI

"Ser cristão é em si mesmo algo vivo, moderno, que atravessa toda a modernidade, formando-a e moldando-a, e, portanto, em certo sentido realmente a abraça. Aqui se necessita de uma grande luta espiritual..."


Passagens antecipadas pelo jornal vaticano

Apresentamos algumas passagens que o L’Osservatore Romano antecipou nesse domingo do livro “Luz do mundo”, que recolhe conversas de Bento XVI com o jornalista alemão Peter Seewald.

* * *
Alegria do cristianismo

Toda minha vida esteve sempre atravessada por um fio condutor, que é este: o cristianismo dá alegria, amplia os horizontes. Em definitivo, uma existência vivida sempre e apenas “em contra” seria insuportável.

Mendigo

No que se refere ao Papa, também ele é um pobre mendigo frente a Deus, ainda mais que os demais homens. Naturalmente rezo, em primeiro lugar, sempre ao Senhor, ao qual estou vinculado, por assim dizer, por uma antiga amizade. Mas invoco também os santos. Sou muito amigo de Agostinho, de Boaventura e de Tomás de Aquino. Portanto, digo a eles: “ajudem-me!”.

A Mãe de Deus é sempre e de todos os modos um grande ponto de referência. Nesse sentido, integro-me na comunhão dos santos. Junto a eles, reforçado por eles, falo, e também com o bom Deus, sobretudo mendigando, mas também agradecendo; ou simplesmente porque estou contente.

Dificuldades

Que a atmosfera não seria sempre alegre era evidente. Dada a atual constelação mundial, com todas as forças de destruição que existem, com todas as contradições que se dão nela, com todas as ameaças e os erros. Se eu tivesse continuado recebendo apenas aprovações, teria de me perguntar se estava realmente anunciando todo o Evangelho.

Abusos sexuais

Os fatos não me pegaram totalmente de surpresa. Na Congregação para a Doutrina da Fé, eu me tinha ocupado dos casos norte-americanos; tinha visto aumentar também a situação na Irlanda. Mas as dimensões, de todos os modos, foram um choque enorme. Desde minha eleição à Sé de Pedro, tinha-me encontrado repetidamente com vítimas de abusos sexuais. Há três anos e meio, em outubro de 2006, em um discurso aos bispos irlandeses, pedi-lhes “estabelecer a verdade do ocorrido no passado, tomando todas as medidas necessárias para evitar que se repita no futuro, assegurar que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curar as vítimas e todos aqueles que foram afetados por estes crimes abomináveis”. Ver o sacerdócio de repente sujo deste modo, e com isso a própria Igreja Católica, foi difícil de suportar. Nesse momento era importante, no entanto, não separar a vista do fato de que na Igreja o bem existe, e não só estas coisas terríveis.

Media e abusos

Era evidente que a ação dos meios de comunicação não estava guiada pela pura busca da verdade, mas tinha também uma complacência em ridicularizar a Igreja e, se fosse possível, desacreditá-la. E, no entanto, era necessário que isso ficasse claro: desde o momento em que se tenta levar a verdade à luz, devemos dar graças. A verdade, unida ao amor corretamente entendido, é o valor número um. E os meios de comunicação não teriam podido dar aqueles informes se na própria Igreja não houvesse dado o mal. Só porque o mal estava dentro da Igreja os outros puderam lançá-lo contra ela.

Intolerância

A verdadeira ameaça diante da qual nos encontramos é que a tolerância seja abolida em nome da própria tolerância. Está em perigo de que a razão, a assim chamada razão ocidental, sustente ter reconhecido finalmente o que é correto e avance assim em uma pretensão de totalidade, que é inimiga da liberdade. Considero necessário denunciar com força esta ameaça. Ninguém está obrigado a ser cristão. Mas ninguém deve ser obrigado a viver segundo a “nova religião”, como se fosse a única e verdadeira, vinculante para toda a humanidade.

Mesquitas e burcas

Os cristãos são tolerantes e, como tais, permitem também aos demais sua peculiar compreensão de si. Alegramo-nos pelo fato de que em países do Golfo Árabe (Qatar, Abu Dabi, Dubai, Kuwait) haja igrejas nas quais os cristãos possam celebrar a Missa e esperamos que ocorra assim em todas as partes. Por isso, é natural que também em nossas terras os muçulmanos possam-se reunir em oração nas mesquitas. Pelo que se refere à burca, não vejo razão de uma proibição generalizada. Diz-se que algumas mulheres não o usam voluntariamente, mas que, na realidade, é um tipo de violência imposta. Está claro que com isso não se pode estar de acordo. No entanto, se querem usá-lo voluntariamente, não vejo porque teria de se impedir.

Cristianismo e modernidade

Ser cristão é em si mesmo algo vivo, moderno, que atravessa toda a modernidade, formando-a e moldando-a, e, portanto, em certo sentido realmente a abraça. Aqui se necessita de uma grande luta espiritual, como quis mostrar com a recente instituição de um Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização. É importante que tentemos viver e conceber o cristianismo de tal modo que assuma a modernidade boa e correta e, ao mesmo tempo, afaste-se e distinga-se daquela que está-se convertendo em uma contra-religião.

Otimismo

Poder-se-ia contemplar com superficialidade e restringir o horizonte só ao mundo ocidental. Mas se se observa com mais atenção, e é isso o que posso fazer graças às visitas dos bispos de todo o mundo e também a tantos encontros, vê-se que o cristianismo neste momento está desenvolvendo também uma criatividade de todo nova [...]. A burocracia está desgastada e cansada. São iniciativas que nascem desde dentro, a partir da alegria dos jovens. O cristianismo talvez assumirá um novo rosto, um aspecto cultural diverso. O cristianismo não determina a opinião pública mundial, outros está à guia. E, no entanto, o cristianismo é a força vital sem a qual as outras coisas tampouco poderiam continuar existindo. Por isso, em virtude do que vejo e do que consigo tornar experiência pessoal, sou muito otimista a respeito do fato de que o cristianismo encontre-se frente a uma dinâmica nova.

A droga

Muitos bispos, sobretudo da América Latina, dizem-me que ali onde passa o caminho do cultivo e do comércio da droga, e isso ocorre em grande parte desses países, é como se um animal monstruoso e malvado estendesse sua mão sobre o país para arruinar as pessoas. Creio que esta serpente do comércio e do consumo de droga, que envolve o mundo, é um poder do qual nem sempre conseguimos ter uma ideia adequada. Destrói os jovens, destrói as famílias, leva à violência e ameaça o futuro de nações inteiras. Também esta é uma terrível responsabilidade do Ocidente: tem necessidade de drogas e assim cria países que lhe oferecem aquilo que logo terminará por consumi-los e destruí-los. Surgiu uma fome de felicidade que não consegue se saciar com aquilo que há, e que logo se refugia, por assim dizer, no paraíso do diabo, e destrói completamente o homem. Na

Sexualidade

Concentrar-se só no preservativo quer dizer banalizar a sexualidade e esta banalização representa precisamente o motivo pelo qual muitas pessoas já não veem na sexualidade a expressão de seu amor, mas só uma espécie de droga, que se fornecem por sua conta. Por este motivo, também a luta contra a banalização da sexualidade forma parte do grande esforço para que a sexualidade seja valorizada positivamente e possa exercer seu efeito positivo no ser humano em sua totalidade. Pode haver casos justificados singulares, por exemplo, quando um prostituto utiliza um preservativo, e este pode ser o primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver de novo a consciência sobre o fato de que nem tudo está permitido e de que não se pode fazer tudo o que se quer. No entanto, este não é o verdadeiro modo para vencer a infecção do HIV. É verdadeiramente necessária uma humanização da sexualidade.

Igreja

Paulo não entendia a Igreja como instituição, com organização, mas como organismo vivente, no qual todos trabalham um pelo outro e um com o outro, unidos a partir de Cristo. É uma imagem, mas uma imagem que permite aprofundar e que é muito realista, ainda que só seja pelo fato de que nós cremos que, na Eucaristia, realmente recebemos Cristo, o Ressuscitado. E se cada um recebe o próprio Cristo, então realmente todos nós estamos reunidos neste novo corpo ressuscitado como o grande espaço de uma nova humanidade. É importante entender isso e, portanto, conceber a Igreja não como um aparato que deve fazer de tudo, também o aparato lhe pertence, mas dentro dos limites – mas ainda mais como organismo vivente que provém do próprio Cristo.

Humanae Vitae

As perspectivas da Humanae Vitae continuam sendo válidas, mas outra coisa é encontrar caminhos humanamente praticáveis. Creio que haverá sempre minorias intimamente convencidas da exatidão dessas perspectivas e que, vivendo-as, ficarão plenamente satisfeitas do modo que poderão ser para outros um fascinante modelo a seguir. Somos pecadores. Mas não deveríamos assumir este fato como uma instância contra a verdade, quando essa alta moral não é vivida. Deveríamos buscar fazer todo o possível, e apoiar-nos e suportar-nos mutuamente. Expressar tudo isso também desde o ponto de vista pastoral, teológico e conceitual, no contexto da atual sexologia e pesquisa antropológica, é uma grande tarefa à qual é necessário se dedicar mais e melhor.

Mulheres

A formulação de João Paulo II é muito importante: “A Igreja não tem, de nenhum modo, a faculdade de conferir às mulheres a ordenação sacerdotal”. Não se trata de não querer, mas de não poder. O Senhor deu uma forma à Igreja com os Doze e depois com sua sucessão, com os bispos e os presbíteros (os sacerdotes). Não fomos nós que criamos esta forma de Igreja, mas se constitui a partir d’Ele. Segui-la é um ato de obediência, na situação atual, talvez um dos atos de obediência mais graves. Mas isso é importante: a Igreja não mostra ser um regime do arbítrio. Não podemos fazer o que queremos. Há, em contrapartida, uma vontade do Senhor para nós, à qual nos atemos, ainda que seja fadigoso e difícil na cultura e na civilização de hoje. Por outro lado, as funções confiadas às mulheres na Igreja são tão grandes e significativas que não se pode falar de discriminação. Seria assim se o sacerdócio fosse uma espécie de domínio, enquanto que, pelo contrário, deve ser completamente serviço. Se se lança o olhar na história da Igreja, damo-nos conta de que o significado das mulheres – desde Maria a Mônica, até a Madre Teresa – é tão eminente que as mulheres definem de muitas maneiras o rosto da Igreja mais que os homens.

Vinda de Cristo

É importante que cada época esteja próxima do Senhor. Que também nós mesmos, aqui e agora, estejamos sob o juízo do Senhor e nos deixemos julgar por seu tribunal. Discutia-se sobre uma dupla vinda de Cristo, uma em Belém e uma ao final dos tempos, até que Bernardo de Claraval falou de um Adventus medius, de uma vinda intermédia, através da qual Ele sempre entre periodicamente na história. Creio que encontrou o tom adequado. Nós não podemos estabelecer quando terminará o mundo. Cristo mesmo disse que ninguém o sabe, nem sequer o Filho. Devemos, no entanto, permanecer, por assim dizer, sempre diante de sua vinda, e sobretudo estar seguros de que, no sofrimento, Ele está próximo. Ao mesmo tempo, deveríamos saber que em nossas ações estamos sob seu juízo.

[Traduzido por ZENIT]

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 22 de novembro de 2010 (ZENIT.org)

“Luz do mundo”

"quando se escuta o Papa dessa forma e se está sentado na frente dele, percebe-se não somente a precisão do seu pensamento e a esperança que provém da fé, mas também se torna visível, de forma especial, um esplendor da Luz do mundo, do rosto de Jesus Cristo, que quer ir ao encontro de cada ser humano e não exclui ninguém".

Bento XVI responde ao homem de hoje

Publicado um livro-entrevista sobre o Papa, a Igreja e os sinais dos tempos

"O que você está fazendo comigo?
Agora, a responsabilidade é sua. Você tem de me conduzir! Eu não posso. Se você me escolheu, então também tem de me ajudar."

Isso é o que Bento XVI pôde dizer ao Senhor, com simplicidade, no momento em que foi eleito Papa, segundo ele mesmo explica no livro-entrevista "Luz do mundo.

O Papa, a Igreja e os sinais dos tempos", apresentado hoje no Vaticano.

Ao responder a cerca de 220 perguntas do jornalista alemão Peter Seewald, ao longo de 176 páginas, Bento XVI esclarece questões sobre os desafios da sociedade atual, a fé e a crise da Igreja.

Não faltam suas explicações simples e pedagógicas sobre questões controversas, como o caso Williamson, seu discurso em Ratisbona, os Legionários de Cristo e seu fundador, o uso do preservativo, a indissolubilidade do matrimônio, os homossexuais, suas modificações na liturgia, sua opinião sobre Pio XII, o celibato, o sacerdócio feminino, os nacionalismos, entre outros.

Como um papa reza?

O relato detalhado das suas experiências mais humanas como pontífice é uma das novidades do livro, fruto da terceira sessão de conversas concedidas ao jornalista alemão Peter Seewald, depois das duas anteriores, antes de ser eleito Papa, que foram traduzidas nos livros "O sal da terra" e "Deus e o mundo".

Bento XVI explica em primeira pessoa, por exemplo, como é sua relação pessoal com Deus.

"A oração e o contato com Deus são agora mais necessários e também mais naturais e evidentes que antes", reconhece, e assegura que, em meio à sua intensa atividade, "acontece, sem dúvida, a experiência e a graça de estado".

"Também eu sou um simples mendigo frente a Deus, e mais que todas as demais pessoas - revela.

É claro que rezo sempre em primeiríssimo lugar ao nosso Senhor, com quem tenho uma relação de tantos anos. Mas também invoco o Espírito Santo."

"Entro na comunhão dos santos - acrescenta. Com eles, fortalecido por eles, falo então também com Deus, sobretudo mendigando, mas também agradecendo ou simplesmente com alegria."

Sobre sua eleição como sucessor de João Paulo II, recorda: "Eu tinha certeza de que esse ministério não era o meu destino e que, depois de anos de grande esforço, Deus ia me conceder algo de paz e tranquilidade".

"Nesse momento, só pude dizer para mim mesmo e deixar claro: ao parecer, a vontade de Deus é outra, e começa algo totalmente diferente, novo para mim. Ele estará comigo", explica com humildade.

Bento XVI constata que a responsabilidade de um papa "é realmente gigantesca". Reconhece que percebe que suas forças vão decaindo, que "tudo isso exige demais de uma pessoa de 83 anos", mas destaca que, "graças a Deus, há muitos bons colaboradores".

Ao mesmo tempo, é consciente de que, para responder a todos os requerimentos, "é preciso ater-se com disciplina ao ritmo do dia e saber quando é preciso ter energia".

Em sua vida cotidiana, Bento XVI não pratica esportes; acompanha diariamente as notícias e às vezes também assiste a algum DVD com seus secretários. "Gostamos de ver Don Camillo e Peppone", explica. Também revela que, nos dias festivos, escutam música e batem papo.

Afirma não ter medo de um atentado e reconhece: "Poucas são as pessoas que têm tantos encontros, como eu. Sobretudo, são importantes para mim os encontros com os bispos do mundo inteiro".

Diz sentir-se reconfortado com as muitas cartas que recebe de pessoas simples que o incentivam, assim como presentes e visitas. "Sinto também o consolo 'do alto'; experimento a proximidade do Senhor na oração; e na leitura dos Padres da Igreja, vejo o esplendor da beleza da fé".

Com relação ao seu predecessor, Bento XVI afirma que se sabe "realmente um devedor seu que, com sua modesta figura, procura continuar o que João Paulo II fez como gigante. (...)

Junto aos grandes, tem que haver também pequenos papas que ofereçam o pouco que têm", indica.

Renúncia ao papado

Nas conversas com Seewald, que aconteceram em Castel Gandolfo durante 6 dias do último mês de julho - uma hora por dia -, Bento XVI não fechou a porta à possibilidade de renúncia ao papado.

"É possível renunciar em um momento sereno, ou quando já não se é capaz - disse.

Se o papa chega a reconhecer com clareza que física, psíquica e mentalmente já não pode suportar o peso do seu ofício, tem o direito e, em certas circunstâncias, também o dever de renunciar."

Dos seus 5 anos de pontificado, destaca as viagens a diversos países, a celebração do Ano Paulino, do Ano Sacerdotal e os dois sínodos, sobretudo o da Palavra de Deus.

"Por outro lado, estão esses grandes períodos de escândalo e as feridas na Igreja", indica, mas afirma que elas "têm para nós uma força purificadora e, no final, podem ser elementos positivos".

Com transparência, o Papa também reconhece estar decepcionado com algumas realidades: "Decepcionado sobretudo por existir no mundo ocidental esse desgosto com a Igreja, pelo fato do secularismo continuar tornando-se autônomo, pelo desenvolvimento de formas nas quais os homens são afastados cada vez mais da fé, pela tendência geral da nossa época de continuar sendo oposta à Igreja".

Sincero e próximo

Outra das novidades de "Luz do mundo" é o estilo direto, cheio de liberdade, sinceridade e proximidade. "Nunca antes, na história da Igreja, um papa havia respondido com tanta franqueza às perguntas de um jornalista em uma entrevista direta e pessoal", indica a editora Herder, responsável pela edição espanhola.

Em referência ao título do livro-entrevista, Peter Seewald indica que, "quando se escuta o Papa dessa forma e se está sentado na frente dele, percebe-se não somente a precisão do seu pensamento e a esperança que provém da fé, mas também se torna visível, de forma especial, um esplendor da Luz do mundo, do rosto de Jesus Cristo, que quer ir ao encontro de cada ser humano e não exclui ninguém".

Colocar Deus no centro

"Luz do mundo" inclui também algumas das habituais análises de Bento XVI, claras e concisas, sobre a situação atual da Igreja e do mundo, com a identificação de numerosos problemas e a proposta de respostas e soluções.

"Poderiam ser mencionados muitos problemas que existem na atualidade e que é preciso resolver, mas todos eles só podem ser resolvidos quando se coloca Deus no centro, quando Deus volta a ser visível no mundo", destaca o Papa na entrevista.

Com relação à Igreja, ele garante que ela "vive".

"Contemplada somente a partir da Europa, parece que se encontra em decadência - indica -, mas esta é somente uma parte do conjunto.

Em outros continentes, ela cresce e vive, está repleta de dinamismo."

América Latina

O Papa oferece numerosas referências concretas de vários países. Com relação à América Latina, indica que, "definitivamente, duas são as figuras que fizeram os homens da América Latina crer: por um lado, a Mãe e, por outro, o Deus que sofre".

Finalmente, fala da simplicidade do cristianismo e afirma que, "em nosso racionalismo e frente ao poder das ditaduras emergentes, Ele nos mostra a humildade da Mãe, que aparece a crianças e lhes diz o essencial: fé, esperança, amor, penitência".

(Patricia Navas)

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 23 de novembro de 2010 (ZENIT.org)

“ESTAR VIGILANTES”, “ESTAR ATENTOS”, “ESTAR PREPARADOS” PARA ACOLHER O SENHOR?

Apelo à vigilância.
O cristão ideal não vive mergulhado nos prazeres que alienam...

1º DOMINGO DO ADVENTO -ANO A

28 de Novembro de 2010

A liturgia deste domingo apresenta um apelo veemente à vigilância. O cristão não deve instalar-se no comodismo, na passividade, no desleixo, na rotina; mas deve caminhar, sempre atento e sempre vigilante, preparado para acolher o Senhor que vem e para responder aos seus desafios.

A primeira leitura convida os homens – todos os homens, de todas as raças e nações – a dirigirem-se à montanha onde reside o Senhor… É do encontro com o Senhor e com a sua Palavra que resultará um mundo de concórdia, de harmonia, de paz sem fim.

A segunda leitura recomenda aos crentes que despertem da letargia que os mantém presos ao mundo das trevas (o mundo do egoísmo, da injustiça, da mentira, do pecado), que se vistam da luz (a vida de Deus, que Cristo ofereceu a todos) e que caminhem, com alegria e esperança, ao encontro de Jesus, ao encontro da salvação.

O Evangelho apela à vigilância. O cristão ideal não vive mergulhado nos prazeres que alienam, nem se deixa sufocar pelo trabalho excessivo, nem adormece numa passividade que lhe rouba as oportunidades; o cristão ideal está, em cada minuto que passa, atento e vigilante, acolhendo o Senhor que vem, respondendo aos seus desafios, cumprindo o seu papel, empenhando-se na construção do “Reino”.

LEITURA I – Is 2,1-5

O texto de Is 2,2-4 encontra-se – com algumas variantes e uma adição – em Mi 4,1-3, o que parece favorecer a hipótese de uma fonte comum, anterior a Isaías e a Miqueias, na qual os redatores dos dois livros se teriam inspirado (embora haja quem defenda, mais simplesmente, que o texto original é de Isaías e que Miqueias apenas o reproduziu com variantes).

Pelo conteúdo estamos, provavelmente, diante de um oráculo inspirado nas grandes movimentações de peregrinos que, por alturas das festas, sobem para Jerusalém.

Imaginemos, como hipótese, que o poeta contempla desde o monte Sião a chegada das caravanas israelitas que acorrem em peregrinação para celebrar uma festa popular – por exemplo, a festa das Tendas… Ele nota que essas caravanas procedem de todas as partes do território habitado pelo Povo de Deus; vê-las convergir para a cidade santa, subir pela colina em direção ao Templo onde reside Deus; à medida que se aproximam, o poeta ouve distintamente os “cânticos de ascensão” com que os peregrinos saúdam o Senhor e pedem a paz para Jerusalém e para toda a nação… Subitamente, na fantasia do poeta, a cena transforma-se: ele vê, num futuro sem data definida, uma multidão de povos de todas as raças e nações que, atraídas por Jahwéh, se dirigem ao encontro da salvação de Deus. É, provavelmente, um “sonho” destes que dá origem a este oráculo escatológico. Estamos diante de um dos oráculos mais inspirados, mais profundos e mais bonitos de todo o Antigo Testamento.

O nosso oráculo é o poema da paz universal e da convergência de todos os povos à volta de Deus.
Na visão do profeta, o “monte do Senhor” (o monte do Templo) eleva-se e transforma-se no centro do mundo, sobressaindo entre todos os montes, não por ser o mais alto, mas por ser a morada de Jahwéh (vers. 2a.b). De todas as partes do mundo vêem-se convergir caravanas de povos e de nações que avançam, confluem e sobem montanha acima, ao encontro do Senhor (vers. 2c-3a)… Quem foi que os convocou, que força os atrai?

A resposta está no próprio cântico que acompanha a caminhada de toda esta gente: eles vêm atraídos pela força irresistível da Palavra de Deus; querem conhecer o ensinamento (Torah) e ser instruídos nos caminhos de Jahwéh (vers. 3b.c.d.e). A Palavra salvadora e libertadora de Jahwéh atrai e agarra todos os povos que percorrem os caminhos do mundo, lança-os num movimento único e universal, reúne-os à volta de Deus.

À medida que todos se juntam à volta de Deus, escutam a sua Palavra e aprendem os seus caminhos, as divisões, as hostilidades, os conflitos da humanidade vão-se desvanecendo.

Primeiro, eles aceitam a arbitragem justa e pacífica de Deus (vers. 4a); depois, compreendem que não são necessárias armas: as máquinas de guerra transformam-se em instrumentos pacíficos de trabalho e de vida (vers. 4b.c.d). Do encontro com Deus e com a sua Palavra, resulta a harmonia, o progresso, o entendimento entre os povos, a vida em abundância, a paz universal.

Este quadro é o reverso de Babel… Na história da torre de Babel (cf. Gn 11,1-9), os homens escolheram o confronto com Deus, o orgulho e a auto-suficiência; e isso conduziu à divisão, ao conflito, à confusão, à falta de entendimento, à dispersão… Agora, os homens escolheram escutar Deus e seguir os caminhos indicados por Ele; o resultado é a reunião de todos os povos, o entendimento, a harmonia, o progresso, a paz universal. Quando se realizará esta profecia?

ATUALIZAÇÃO

Para a reflexão pessoal, considerar os seguintes elementos:
• O sonho do profeta começa a realizar-se em Jesus. Ele é a Palavra viva de Deus, que Se fez carne e que veio habitar no meio de nós, a fim de trazer a “paz aos homens” amados por Deus (cf. Lc 2,14); da escuta dessa Palavra, nasce a comunidade universal da salvação, aberta a todos os povos da terra (cf. Act 2,5-11), de que fala a leitura que nos é proposta. Se é verdade que todo o processo tem a marca da iniciativa divina, também é verdade que o homem tem de responder positivamente à ação de Deus: tem de escutar essa proposta, acolhê-la no coração e na vida, partir ao encontro de Deus (a nossa leitura fala de uma peregrinação à montanha sagrada). Estamos a começar o tempo de preparação para acolher Jesus (Advento) e a proposta de salvação que, através d’Ele, o Pai quer fazer aos homens: estamos dispostos a ir ao seu encontro, a acolhê-l’O, a escutar a sua Palavra, a aderir a essa proposta de vida que Ele veio fazer?

• Um olhar, ainda que desatento, ao mundo que nos rodeia, revela que estamos muito longe dessa terra ideal de justiça e de paz, construída à volta de Deus e da sua Palavra – apesar de Jesus, a Palavra viva de Deus, ter vindo ao nosso encontro há já dois mil anos… O que é que está a impedir ou, pelo menos, a atrapalhar a chegada desse mundo de justiça e de paz? Nisso, eu não terei a minha parte de responsabilidade? Que posso eu fazer para que o sonho de Isaías – o sonho de todos os homens de boa vontade – se concretize?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 121 (122)
Refrão: Vamos com alegria para a casa do Senhor.
Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém.
Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor,
segundo costume de Israel, para celebrar o nome do Senhor;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David.
Pedi a paz para Jerusalém:
«Vivam seguros quantos te amam.
Haja paz dentro dos teus muros,
tranquilidade em teus palácios».
Por amor de meus irmãos e amigos,
pedirei a paz para ti.
Por amor da casa do Senhor,
pedirei para ti todos os bens.

LEITURA II – Rom 13,11-14

Quando Paulo redige a Carta aos Romanos, está em Corinto, no termo da sua terceira viagem missionária… Prepara-se para partir para Jerusalém com o produto da coleta que organizou na Macedónia e na Acaia em benefício dos “santos de Jerusalém que estão na pobreza” (1 Cor 16,1; cf. Rom 15,25-26). Paulo acha que terminou a sua missão no oriente (cf. Rom 15,19-20) e quer, agora, levar o Evangelho ao ocidente. Estamos no ano 57 ou 58.

O pretexto da carta é preparar a ida de Paulo a Espanha (cf. Rom 15,24)… Na realidade, Paulo aproveita para contatar a comunidade de Roma e para apresentar aos romanos (e aos crentes, em geral) os principais problemas que o preocupam… Estamos numa altura em que o perigo da divisão ameaça a Igreja: de um lado estão as comunidades de origem judeo-cristã e de outro as comunidades pagano-cristãs; uns e outros têm algumas dificuldades de entendimento e há um perigo real de cisão. Paulo escreve, então, sublinhando a unidade da fé e chamando a atenção para a igualdade fundamental de todos – judeo-cristãos e pagano-cristãos – no processo da salvação.

A primeira parte da Carta aos Romanos (cf. Rom 1,18-11,36) é de caráter dogmático e procura mostrar que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o cristão; a segunda parte (cf. Rom 12,1-15,13) é de caráter prático e exorta judeo-cristãos e pagano-cristãos a viver no amor.

O texto que hoje nos é proposto pertence à segunda parte da carta. Depois de exortar os cristãos que pertencem à comunidade de Roma ao amor mútuo (cf. Rom 13,8-10), Paulo pede-lhes que estejam vigilantes e preparados, a fim de acolher o Senhor que vem.

Referindo-se à “hora” que os cristãos estão a viver, Paulo pede-lhes que se levantem “do sono, porque a salvação está mais perto”. Ao dizer que a salvação está perto, o que é que Paulo está a sugerir?

Paulo pensava, certamente, na vinda mais ou menos iminente de Jesus Cristo, a fim de concluir a história da salvação; no entanto, a ausência de especulações apocalípticas mostra claramente que o interesse de Paulo não é no “quando” e no “como”, mas no significado e nas consequências dessa vinda. O fato que aqui interessa é, portanto, que os cristãos estão a viver os “últimos tempos” (que começaram quando Jesus deixou o mundo e encarregou os discípulos de serem testemunhas da salvação diante dos homens) antes da vinda de Jesus… Quais as consequências disso?

Antes de serem batizados, os cristãos viviam nas trevas e a sua vida estava pontuada pelo egoísmo (excessos de comida e de bebida, devassidões, libertinagens, discórdias e ciúmes); mas, com o batismo, eles nasceram para uma nova realidade… É para essa realidade de uma vida nova, liberta do egoísmo e do pecado, que eles devem acordar definitivamente, enquanto esperam o Senhor que vem: quando o Senhor chegar, deve encontrá-los despidos do velho mundo das trevas; e deve encontrá-los atentos e preparados, revestidos dessa vida nova que Cristo lhes ofereceu, vivendo na fé, no amor, no serviço.

Fundamentalmente, há aqui um convite a que os cristãos vivam este “tempo” como um tempo último e definitivo, que tem de ser um tempo de caminhada ao encontro de Jesus Cristo e ao encontro da salvação.

ATUALIZAÇÃO

Considerar as seguintes questões:

• A questão fundamental que está em jogo neste texto é a da conversão: os cristãos são convidados a deixar a vida das trevas e embarcar, decididamente, na vida da luz… As “trevas” caracterizam essa realidade negativa que produz mentira, injustiça, opressão, medo, cobardia, materialismo (e que é uma realidade que toca tantas vezes, directa ou indirectamente, a nossa existência); a “luz” é a realidade de quem vive na dinâmica de Deus… Falar de “conversão” implica falar de uma transformação profunda das estruturas e dos corações… Quais são, na sociedade, as estruturas que são responsáveis pelas “trevas” que envolvem a vida de tantos homens? O que é que na Igreja é menos “luminoso” e necessita de conversão? O que é que em mim próprio é necessário transformar com urgência?

• Quase todos nós somos pessoas razoáveis e sérias e não andamos todos os dias em bebedeiras, devassidões, libertinagens e discórdias; mas, apesar da nossa bondade e seriedade, é possível que o cansaço, a monotonia, a preguiça nos adormeçam, que caiamos na indiferença, na inércia, na passividade, no comodismo; é possível que deixemos correr as coisas e que esqueçamos os compromissos que um dia assumimos com Jesus e com o “Reino”… É para nós que Paulo grita: “acordai!; renovai o vosso entusiasmo pelos valores do Evangelho; é preciso estar preparado – sempre preparado – para acolher o Senhor que vem”.

• Há também, neste texto, um convite à esperança: “o Senhor vem! A noite vai adiantada e o dia está próximo”. Deus não nos abandona; Ele continua a vir ao nosso encontro e a construir conosco esse mundo novo de justiça e de paz… Por muito que nos assustem as trevas que envolvem o mundo, a presença de Deus garante-nos que a injustiça, a exploração, a morte não são o final inevitável: a última palavra que a história vai ouvir é a Palavra libertadora e salvadora de Deus.

ALELUIA – Salmo 84,8

Aleluia. Aleluia.
Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia
e dai-nos a vossa salvação.

EVANGELHO – Mt 24,37-44

Os capítulos 24 e 25 do Evangelho segundo Mateus apresentam o último grande discurso de Jesus antes da sua paixão e morte. Para compô-lo, Mateus reelaborou o chamado “discurso escatológico” de Marcos (cf. Mc 13), ampliando-o e mudando substancialmente o tema central: se no discurso transmitido por Marcos a questão principal é a dos sinais que precederão a destruição de Jerusalém e do Templo, no discurso reelaborado por Mateus a questão central é a da vinda do Filho do homem e das atitudes com que os discípulos devem preparar a dita vinda.

Esta mudança de perspectiva pode explicar-se a partir da situação em que vivia a comunidade de Mateus e com as suas necessidades. Estamos na década de 80. Passaram dez anos sobre a destruição de Jerusalém e ainda não aconteceu a segunda vinda de Jesus. Os cristãos estão desanimados e desiludidos… O evangelista contempla com preocupação os sinais de abandono, de desleixo, de rotina, de esfriamento que começam a aparecer na comunidade e sente que é preciso renovar a esperança e levar os cristãos a comprometer-se na história, construindo o “Reino”.

Nesta situação, Mateus descobre que as palavras de Jesus encerram um profundo ensinamento e compõe com elas uma exortação dirigida aos cristãos. Esta exortação fundamenta-se numa profunda convicção: a vinda do “Filho do homem” é um fato certo, ainda que não aconteça em breve; enquanto não chega o momento, é preciso preparar este grande acontecimento, vivendo de acordo com os ensinamentos de Jesus.

A linguagem destes capítulos é estranha e enigmática… Trata-se, no entanto, de um gênero usado com alguma frequência por alguns grupos judeus e cristãos da época de Jesus. É a linguagem “apocalíptica”, porque o seu objetivo é “revelar algo escondido” (“apocaliptô). Em muitas ocasiões, esta revelação é dirigida a comunidades que vivem numa situação de sofrimento, de desespero, de perseguição; o objetivo é animá-las, dar-lhes esperança, mostrar-lhes que a vitória final será de Deus e dos que lhe forem fiéis.

Para Mateus, a vinda do Senhor é certa, embora ninguém saiba o dia nem a hora (cf. Mt 24,36); aos cristãos resta estar vigilantes, preparados e ativos… Para transmitir esta mensagem, Mateus usa três quadros…

O primeiro (vers. 37-39) é o quadro da humanidade na época de Noé: os homens viviam, então, numa alegre inconsciência, preocupados apenas em gozar a sua “vidinha” descomprometida; quando o dilúvio chegou, apanhou-os de surpresa e impreparados… Se o “gozar” a vida ao máximo for para o homem a prioridade fundamental, ele arrisca-se a passar ao lado do que é importante e a não cumprir o seu papel no mundo.

O segundo (vers. 40-41) coloca-nos diante de duas situações da vida quotidiana: o trabalho agrícola e a moagem do trigo… Os compromissos e trabalhos necessários à subsistência do homem também não podem ocupá-lo de tal forma que o levem a negligenciar o essencial: a preparação da vinda do Senhor.

O terceiro (vers. 43-44) coloca-nos frente ao exemplo do dono de uma casa que adormece e deixa que a sua casa seja saqueada pelo ladrão… Os cristãos não podem, nunca, deixar-se adormecer, pois o seu adormecimento pode levá-los a perder a oportunidade de encontrar o Senhor que vem.

A questão fundamental é, portanto, esta: o cristão ideal é aquele que está sempre vigilante, atento, preparado, para acolher o Senhor que vem. Não perde oportunidades, porque não se deixa distrair com os bens deste mundo, não vive obcecado com eles e não faz deles a sua prioridade fundamental… Mas, dia a dia, cumpre o papel que Deus lhe confiou, com empenho e com sentido de responsabilidade.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão deste texto pode partir dos seguintes dados:

• O que é que significa para nós “estar vigilantes”, “estar atentos”, “estar preparados” para acolher o Senhor? Significa ter a “alminha” na “graça de Deus” para que, se a morte chegar de repente, Deus não consiga encontrar em nós qualquer pecado não confessado e não tenha qualquer razão para nos mandar para o inferno? Significa, fundamentalmente, acolher todas as oportunidades de salvação que Deus nos oferece continuamente… Se Ele vem ao meu encontro, me desafia a cumprir uma determinada missão e eu prefiro continuar a viver a minha “vidinha” fácil e sem compromisso, estou a perder uma oportunidade de dar sentido à minha vida; se Ele vem ao meu encontro, me convida a partilhar algo com os meus irmãos mais pobres e eu escolho a avareza e o egoísmo, estou a perder uma oportunidade de abrir o meu coração ao amor, à alegria, à felicidade…

• O Evangelho que nos é proposto apresenta alguns dos motivos que impedem o homem de “acolher o Senhor que vem”… Fala da opção por “gozar a vida”, sem ter tempo nem espaço para compromissos sérios (quanta gente, ao domingo, tem todo o tempo do mundo para dormir até ao meio dia, mas não para celebrar a fé com a sua comunidade cristã); fala do viver obcecado com o trabalho, esquecendo tudo o mais (quanta gente trabalha quinze horas por dia e esquece que tem uma família e que os filhos precisam de amor); fala do adormecer, do instalar-se, não prestando atenção às realidades mais essenciais (quanta gente encolhe os ombros diante do sofrimento dos irmãos e diz que não tem nada com isso: é o governo ou o Papa que têm que resolver a situação)… E eu: o que é que na minha vida me distrai do essencial e me impede, tantas vezes, de estar atento ao Senhor que vem?

• Neste tempo de preparação para a celebração do nascimento de Jesus, sou convidado a recentrar a minha vida no essencial, a redescobrir aquilo que é importante, a estar atento às oportunidades que o Senhor, dia a dia, me oferece, a acordar para os compromissos que assumi para com Deus e para com os irmãos, a empenhar-me na construção do “Reino”… É essa a melhor forma – ou melhor, a única forma – de preparar a vinda do Senhor.

com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

BILHETE DE EVANGELHO - 1º DOMINGO DO ADVENTO ANO A


Eis porque aqueles que crêem devem apressar-se em rezar

Aos homens sem armas, Deus promete a vitória da Paz. Um homem desarmado é um homem vulnerável… mas ele pode também desarmar os violentos que lhe fazem face. Jesus veio precisamente desarmar os homens. Apresenta-Se como “Príncipe da Paz”. Proclama felizes os construtores de Paz, porque a Paz é uma obra: faz-se a Paz, infelizmente também se faz a guerra.

Neste período da nossa história marcado pela violência, apresentemo-nos sem armas: apenas com a da reconciliação, dando um passo; a do diálogo, escutando e falando; a do respeito, olhando e ousando falar; a da solidariedade, estendendo a mão… Os desarmados não são gente que baixa os braços dizendo: “nunca se conseguirá!” A vitória é-lhes assegurada pelo próprio Deus: “Glória a Deus e paz na terra aos homens por Ele amados!”

ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:

Bendito sejas, Deus nosso Pai! Numa humanidade ferida pelas espadas e pelas lanças das querelas e das guerras, Tu revelaste o caminho da paz, comunicando a Palavra e instruindo o teu povo.
Nós Te pedimos pelas Igrejas espalhadas por todo o universo: que elas irradiem a tua luz para traçar no mundo o caminho da paz.

No final da segunda leitura:

Nosso Pai, nós Te bendizemos pelo tempo da salvação: Tu nos anuncias o fim da noite e a vinda do dia, e em cada domingo se torna presente a ressurreição do teu Filho, Jesus, nosso irmão.
Nós Te pedimos por nós mesmos: guarda-nos das atividades das trevas, reveste-nos para o combate da luz, reveste-nos do Senhor Jesus.

No final do Evangelho:

Nós Te damos graças pela tua vigilância e pela tua solicitude: mesmo nas infelicidades da nossa terra, Tu vigias os teus fiéis, com atenção e bondade.
Nós Te pedimos ainda: que o teu Espírito nos torne atentos e preparados, que o teu Filho Jesus nos encontre em situação de vigilância, na oração e na atenção ao próximo.

PALAVRA EXPLICADA 1: SIÃO.

SIÃO. É a antiga denominação do lugar de Jerusalém, antes da instalação dos Hebreus. Em sentido estrito, este nome designa a colina sul da cidade, mas foi estendido em seguida a toda a cidade (2Re 19,31). E aplicado, em particular, ao lugar do templo (Is 2,3, primeira leitura deste domingo), como lugar da presença de Deus (Am 1,2). A população da cidade era chamada “Filha de Sião”, como é indicado pelos Evangelhos para a entrada de Jesus em Jerusalém (Mt 21,5 e Jo 12,15, que citam Zac 9,9 e Is 62,11). Nas visões cristãs do mundo que virá, o monte Sião é transposto para o céu, para a grande reunião da multidão dos eleitos (os 144.000 segundo Ap 14,1), na cidade celeste do Deus vivo (Heb 12,22). Antigas tradições cristãs situavam igualmente nesta mesma colina de Sião, o local (chamado cenáculo) no qual Jesus tinha celebrado a Ceia e que se considerava também como o lugar onde se encontravam os apóstolos no Pentecostes (Ac 2,1). Nesta compreensão, Sião era, pois, o lugar de nascimento da Igreja.
Na liturgia, isso orientou a compreensão dos salmos, que evocam Sião e a sua aplicação à Igreja.

PALAVRA EXPLICADA 2: VIGÍLIA.

VIGÍLIA. A oração na noite é uma originalidade cristã, como testemunham já os Atos a propósito da prisão de Pedro (12,12), depois de Paulo e de Silas (16,25), e a propósito do encontro de Troas (20,7). Por volta de 250, um regulamento de comunidade (“Tradição Apostólica” 41) justificava a vigília pela parábola do cortejo nupcial e o convite de Cristo a vigiar (Mt 25,6.13), para acrescentar: “os antigos que transmitiram a tradição ensinaram-nos assim que a esta hora toda a criação repousa um momento para louvar o Senhor: os astros, as árvores, as águas e todos os anjos, com as almas dos justos. Eis porque aqueles que crêem devem apressar-se em rezar a esta hora”.

Do século IV veio-nos o testemunho de São Basílio de Cesareia: “Entre nós, durante a noite, o povo levanta-se para se dirigir à casa de oração.
Depois de passar a noite numa salmodia repartida em vários coros e na qual intercalam orações, quando o dia começa já a aparecer, todos juntos, numa só boca e num só coração, fazem subir para o Senhor o salmo da confissão”.

Pensar em Jesus!

Durante a celebração, se há a coroa de Advento com as quatro velas, pode-se pedir às crianças para acender a primeira vela, com uma palavra de introdução. Mas pode-se também pensar em algo relacionado com as palavras de Jesus no Evangelho: “na hora em que menos pensais…” No fundo, ao longo dos dias, pensamos regularmente em Jesus? Um modo de fazer as crianças pensar em Jesus é entregar a cada uma, no final da celebração, uma pequena carta, com o título: “Advento 2010 – Eu penso em ti, Jesus!” E, por baixo, as crianças anotarão durante a semana, os momentos em que terão pensado em Jesus.

PALAVRA PARA O CAMINHO.

Vigiai! Para esperar o quê? Ou quem? Que esperamos concretamente? Vigiai! Como no tempo de Noé ou de Jesus, estamos absorvidos por tantos interesses! Vigiai! A vida é curta! Paulo indica-nos alguns meios muito práticos para ficar vigilantes e reorientar a nossa espera. Vigiai! Em tempo de Advento, em cada dia da semana que nos é dada para viver!

Coroa do Advento

Desde a Antiguidade, a coroa de folhas ou de pinheiro representa a festa e a esperança de renovação.

Uma coroa de pinheiro ornada com 4 velas, decorada com laços, pinhas, frutas secas... a Coroa do Advento.

A luz e as folhas protegem dos malefícios e das catástrofes, e as 4 velas simbolizam as 4 semanas que precedem o Natal.

Elas exprimem também as 4 estações do ano e os 4 períodos da vida. A tradição manda acender uma vela a cada domingo durante o período do Advento, até a noite de Natal, quando as 4 velas acesas evocam a luz e o renascimento do Sol.

com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Bento XVI: o caminho para vencer a AIDS não é o preservativo, e sim a humanização da sexualidade.

No livro-entrevista com o jornalista alemão Peter Seewald titulado “Luz do Mundo”, que será apresentado no Vaticano nesta terça-feira 23 de novembro, o Papa Bento XVI assinala que o preservativo não é o modo verdadeiro nem adequado para vencer a AIDS, e sim a humanização da sexualidade.

Em um extrato do livro que leva como subtítulo “O Papa, a Igreja e os sinais dos tempos”, divulgado ontem pelo L’Osservatore Romano e apresentado erroneamente por diversos meios de comunicação como a “aceitação da camisinha por parte do Papa”, o Santo Padre reitera o que disse em sua viagem à África em 2009: o caminho para vencer a AIDS não é o preservativo, e sim a humanização da sexualidade.

Bento XVI assinala que “a mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias”.

Assim o Papa precisa: “É por isso que o combate contra a banalização da sexualidade também faz parte da luta para que ela seja valorizada positivamente e o seu efeito positivo se possa desenvolver no todo do ser pessoa”.

O Papa usa logo o exemplo de um prostituto que usa um preservativo e o apresenta como um primeiro passo para a moralização: “Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer”.

“Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por VIH/HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade», esclarece o Santo Padre.

“É evidente que a Igreja não considera a utilização do preservativo uma solução verdadeira e moral”, acrescenta Bento XVI.

A Folha de São Paulo informou hoje que “O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, deu um comunicado oficial pelo qual as manifestações de Bento 16 "não reformam ou mudam as doutrinas da Igreja, mas as reafirmam, na perspectiva do valor e da dignidade da sexualidade humana como expressão de amor e responsabilidade".

Ao contrário do que a mídia vem divulgando, a Folha também esclarece que “o Vaticano assegurou neste domingo que as palavras do papa Bento 16 sobre o uso do preservativo, segundo ele justificável em "alguns casos", não são "uma mudança revolucionária", mas uma "visão compreensiva" para levar a humanidade "culturalmente muito pobre rumo ao exercício responsável da sexualidade".

O Papa reitera a posição da Igreja

As palavras de Bento XVI neste livro reforça o que já expressou ele em sua viagem a Camarões e a Angola em 2009, que ocasionaram duras críticas e que divulgado por um setor da imprensa de maneira tergiversada. O Santo Padre explicou que “não se pode superar este problema da AIDS apenas com slogans publicitários. Se não existir o ânimo, se os africanos não se ajudarem, não se pode resolver o flagelo com a distribuição de preservativos: ao contrário, o risco que se corre é o de aumentar o problema".

Na entrevista que deu durante o vôo a Camarões em março de 2009 ao ser perguntado pelo trabalho da Igreja na luta contra a AIDS, bastante extensa em todo mundo especialmente na África, o Papa disse que o caminho para enfrentar esta enfermidade “pode encontrar-se apenas em um duplo esforço: o primeiro consiste em uma humanização da sexualidade, quer dizer uma renovação espiritual e humana que leve consigo um novo modo de comportar-se um com o outro”.

O segundo passo que propôs para esta tarefa é o de “uma verdadeira amizade também e sobre tudo com os que sofrem, a disponibilidade, também com sacrifícios, com renúncias pessoais, para estar com os que padecem".

Abusos sexuais e outros temas

Nos extratos apresentados pelo L’Osservatore Romano, o Papa se refere ao judaísmo, a relação com o Islã, e outros temas como a cobertura da imprensa sobre os abusos sexuais cometidos por alguns membros do clero. Bento XVI adverte que em muitos casos isto usou-se como uma forma de desacreditar a Igreja antes que investigar procurando a verdade.

O Santo Padre explica ademais que a Igreja não pode ordenar mulheres ao sacerdócio. Entretanto, precisa, o lugar das mulheres nela é fundamental e isto pode observar-se na importância da Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja, e em testemunhos de santidade como o da Beata Teresa de Calcutá.

O Papa Bento XVI se descreve a si mesmo como um mendigo que confia em sua amizade com o Senhor, a Virgem os Santos para viver sua vocação. Sua vida sem a alegria cristã seria insuportável, afirma

Fonte: http://www.acidigital.com/noticia.php?id=20649
VATICANO, 21 Nov. 10 / 02:54 pm (ACI).

sábado, 20 de novembro de 2010

Viva Cristo Rei!

Meditação:

Evangelho do Domingo

Solenidade Cristo Rei

(Lucas 23,35-43)


Termina o ano cristão e a Igreja celebra o domingo de Cristo Rei.

A liturgia nos relata o final da paixão de Jesus, na qual Ele aparece como Rei.

Onde está, ó Rei, o teu reinado?

Onde estão teus súditos leais?

Aonde se foram os incondicionais discípulos?

Como ficaram todos os teus projetos bem-aventurados?

Como é que esse, que se apresenta como rei-dos-judeus, nasceu de uma mulher, brinca com as crianças, atende os pobres e doentes, trata com todo tipo de pecadores e condena nossas leis inumanas?

Assim todos, por temor, desencanto ou indignação... foram abandonando aquele Rei. Bem, nem todos.

Lá estava Maria, algumas mulheres e João. E havia mais um, o da última hora: Dimas.

Somente Dimas não empregou o condicional de quem duvida ou nega, mas o imperativo de quem tem certeza diante do acontecimento que seus olhos presenciam: "Lembra-te de mim".

A resposta de Jesus não se fez esperar: "Hoje estarás comigo no Paraíso".

Aquele Rei e o seu Reino não terminaram.

Aquele estar com Jesus e participar do seu reinado é o que os cristãos vêm celebrando e prolongando durante séculos.

E é o que, neste último domingo do ano litúrgico, queremos especialmente recordar: que Ele é o Rei de toda a criação, o Rei de uma nova história, o Rei de uma nova humanidade.

O reinado de Jesus não é uma proclamação fugaz e oportunista, não é um discurso fácil e barato.

É, nem mais nem menos, um devolver à humanidade a possibilidade de voltar a ser humana segundo o plano de Deus: a possibilidade de reempreender aquele caminho perdido que Deus oferecera outrora, e que uma liberdade não vivida na luz, na verdade e no amor, mandou para o espaço.

O reinado de Jesus é esse espaço de nova história na qual é possível viver como filhos de Deus, como irmãos diante dos homens e diante de toda a criação.

Este reinado já começou e muitos homens e mulheres viveram assim.

Mas também quantos ainda não vivem assim, nem diante do Pai Deus, nem diante do irmão homem, nem diante da irmã criação!

Por isso, é um Reino de Jesus que está apenas começando, que se encontra sem terminar, sem sua plenitude final.

Só existe um trono e este pertence a Deus: e nesse trono se oferece liberdade. Toda suplantação desse Rei suporá um caminho de escravidão, de inumanidade, de corrupção, como demonstra a história de sempre e a mais recente.

Por Jesus Cristo Rei e por esse Reino é preciso continuar trabalhando, construindo-o cotidianamente com cada gesto, em cada situação e circunstância, para ir desterrando e transformando o que em nós e entre nós não corresponda ao projeto do Senhor.

Como disseram nossos mártires: Viva Cristo Rei!

Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, arcebispo de Oviedo
OVIEDO, sexta-feira, 19 de novembro de 2010 (ZENIT.org)

BILHETE DE EVANGELHO



Solenidade de Cristo e Senhor e rei do Universo.

Na colina do Gólgota, os chefes zombam… os soldados troçam… um soldado injuria Jesus… Até ao fim Jesus encontrará a oposição e a incompreensão.

A sua mensagem era perturbadora, o seu testemunho provocador, o seu rosto desfigurado, mesmo Deus parecia tê-l’O abandonado…

É um malfeitor que reconhece no seu companheiro de infelicidade, também perto de morrer, o Rei de um outro Reino em que a única defesa é a do Amor.

Então, vira-se para Jesus, de quem deve ter ouvido falar do seu Reino, e pede-Lhe somente para
Se recordar dele quando vier inaugurar este Reino.

Ora, a hora chegou, é hoje que estará com Ele no Paraíso. Aquele que foi malfeitor sobre a terra torna-se benfeitor no Reino, é isso a salvação.

Isso passou-se na colina do Gólgota, numa certa sexta-feira da história…

À ESCUTA DA PALAVRA.
Na oração do Pai Nosso, Jesus faz-nos pedir, e reza conosco: “Não nos deixeis cair em tentação”. De fato, Jesus foi submetido à tentação e resistiu. A este propósito, Lucas dá uma estranha precisão, dizendo que o diabo afastou-se de Jesus até ao momento fixado. Este momento é quando Jesus é pregado na cruz.

No deserto, o diabo tinha dito: “Se és o Filho de Deus…” Agora Jesus ouve: “Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também”.

É a mesma tentação: se Jesus é verdadeiramente o Messias, o Filho de Deus, deve dispor de toda a onipotência de Deus.

Então, que utilize este mesmo poder para cumprir um último milagre e despegar-Se da cruz.

Até os seus inimigos ficariam confundidos. Mas Jesus resistiu. É porque algo de sumamente importante está aqui em jogo. Trata-se, uma vez mais, do verdadeiro rosto de Deus que Jesus veio revelar.
Não um Deus todo-poderoso à maneira dos homens, mas um Deus Pai que só pode fazer uma coisa: amar, amar os seus inimigos, ainda e sempre, mesmo quando eles O rejeitam e crucificam o seu Filho bem-amado.
Ora, se esta tentação acompanhou Jesus até à cruz, não é de admirar que ela acompanhe sempre os seus discípulos, que a própria Igreja não lhe escape!
Na cruz, Jesus, o Rei, exerce outro poder, outra realeza.
Não utiliza um poder à maneira do mundo. O segundo malfeitor, que chamamos de “bom ladrão”, só pede uma coisa a Jesus: que Se lembre dele no seu Reino.
O que ele pede não é que o livre da morte iminente, a mesma de Jesus! É que, depois da morte, Jesus Se lembre dele. Simplesmente, diz: “Jesus, preciso de ti”. É um grito de pobreza. Então Jesus diz-lhe: “Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso”.

E o assassino tornou-se o primeiro homem a entrar com Jesus no Reino do Pai. Aí está o verdadeiro, o único poder de Jesus.

PALAVRA PARA O CAMINHO DA VIDA…

Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo…

Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de Deus: “Vamos com alegria para a casa do Senhor”…; “Deus Pai libertou-nos do poder das trevas… transferiu-nos para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados”…; “Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza”…

Procurar transformar as palavras de Deus em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…

com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

«Como nos dias de Noé»

Hoje estabeleço uma aliança irrevogável com eles.

O sábio Noé [...] embarcou na arca por ordem de Deus, com os seus filhos e as mulheres destes, ao todo somente oito almas. Sem parar de gemer, este servo rezava assim: «Não me faças perecer com os pecadores, meu Salvador, pois vejo já o caos apoderar-se da criação e os elementos estão agitados pelo medo. [...] As nuvens estão preparadas, o céu está tumultuoso, os anjos acorrem à frente da Tua cólera». Ao ouvir estas palavras, Deus cerrou a arca e selou-a, enquanto o seu fiel gritava: «Salva todos os homens da cólera pelo amor que nos tens, redentor do universo».

Do alto do céu, o juiz dá uma ordem; de imediato se abriram as comportas, precipitando as chuvas, torrentes de água e saraiva de um lado do mundo ao outro; e o medo fez brotar as fontes do abismo, inundando a terra em todo o lado. [...]

Foi este o efeito da cólera de Deus, porque os homens haviam perseverado no seu endurecimento e não se tinham apressado a gritar-Lhe com fé: «Salva todos os homens da cólera pelo amor que nos tens, redentor do universo». [...]

Em seguida, o coro dos anjos, vendo os homens carnais destruídos, gritou: «Agora, que os justos possuam toda a extensão da terra!» Porque o Criador gosta de ver aqueles que fez à Sua imagem (Gn 1, 26); foi por isso que pôs os Seus santos de parte para os salvar.

Noé [...] solta a pomba e ela regressa ao fim do dia, trazendo no bico um ramo de oliveira, que anunciava simbolicamente a misericórdia de Deus.

Então Noé sai da arca, como que do túmulo, segundo a ordem que recebera [...], não como outrora Adão, que comera de uma árvore que dá a morte, pois Noé produzira um fruto de penitência ao dizer: «Salva todos os homens da cólera pelo amor que nos tens, redentor do universo».

Mortas estão a corrupção e a iniquidade; o homem de coração reto triunfa pela sua fé, pois encontrou graça [...].

Então, o justo (Gn 6, 9) ofereceu ao Senhor um sacrifício sem mancha [...]; o Criador aspirou o seu agradável perfume e [...] declarou: «Jamais o universo voltará a perecer num dilúvio, mesmo que todos os homens levem uma vida má.

Hoje estabeleço uma aliança irrevogável com eles. Mostro o Meu arco a todos os habitantes da Terra para lhes servir de sinal, para que todos Me invoquem assim: «Salva todos os homens da cólera pelo amor que nos tens, redentor do universo».»

São Romano, o Melodista (? – c. 560), compositor de hinos
Hino de Noé, str. 11ss. (a partir da trad. SC 99, pp. 117 ss. rev.)

com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

BILHETE DE EVANGELHO - 33º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C


“Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas…”.

Os homens têm sempre necessidade de se apoiar naquilo que é sólido. Compreende-se o olhar admirado dos discípulos contemplando o templo de Jerusalém. É então que Jesus escolhe o momento para lhes anunciar que tudo o que é terrestre é efêmero e que virá um dia em que tudo de desmoronará para deixar chegar o Reino, que será eterno e nunca conhecerá a destruição. Mas, ao mesmo tempo, Jesus assegura-lhes: virá o momento em que eles deverão testemunhar no meio das perseguições, por causa do seu Nome. E para este testemunho ser-lhes-á dada a linguagem e a sabedoria à qual todos os adversários não poderão opor resistências nem contradições. E, depois, Aquele que está Vivo e que aparecerá no fim dos tempos como o grande vencedor sobre as forças do mal manterá vivos para sempre aqueles que souberem perseverar. Tal é a promessa de Jesus aos seus discípulos; e Jesus mantém sempre as suas promessas.

À ESCUTA DA PALAVRA

O fim do mundo! Não podemos descobrir no nosso tempo todos estes sinais do fim do mundo tal como Jesus os dá? “Há-de erguer-se povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias”. Diríamos hoje epidemias como a aids, a gripe das aves… Muitas coisas podem servir para manipular o medo e a angústia de muitas pessoas. Para mais, há toda uma panóplia de seitas. Mesmo no cristianismo vemos surgir regularmente aparições de várias espécies. O “regresso do religioso” toma muitas vezes a forma de uma procura de sinais milagrosos, de predições sobre tudo e sobre nada. Há mais magos, adivinhos, cartomantes, astrólogos e gurus de toda a espécie, do que padres. Quem nunca leu um horóscopo? E suma, o esoterismo está na moda. E, para tranquilizar a consciência, até nos apoiamos nas palavras de Jesus. Mas Jesus adverte-nos: “Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: ‘sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não os sigais”.
Em São Mateus, precisa mesmo: “surgirão falsos Cristos e falsos profetas, que produzirão grandes sinais e prodígios, a ponto de abusar, mesmo os eleitos”.
São Paulo diz mesmo que Satanás se disfarça em anjo de luz. Então, nós também, hoje, somos convidados a resistir a estas tentações de esoterismo. O nosso futuro não está inscrito nem nos astros, nem nas cartas, nem na marca do café, nem nas linhas da mão. O nosso futuro está em Jesus. Queremos sinais? Só temos um: a morte e a ressurreição de Jesus, que nos são dadas em cada Eucaristia e que são a prova última e definitiva do amor de Deus por nós. É verdade que este sinal só se pode reconhecer na fé e o próprio Jesus se questionou: “O Filho do Homem, quando vier, encontrará a fé sobre a terra?” Desde então, a nossa primeira preocupação deve ser vivificar a nossa fé, reencontrar uma intimidade com Jesus: “Jesus, eu creio, mas aumenta a minha fé!” Então, não teremos mais medo.

PALAVRA PARA O CAMINHO DA VIDA…

Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de Deus: «há-de vir o dia do Senhor… Nascerá o sol de justiça… trazendo a salvação…”; “trabalhem tranquilamente, para ganharem o pão que comem…”; “tereis ocasião de dar testemunho…”; “pela vossa perseverança salvareis as vossas almas…”. Procurar transformar as palavras de Deus em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…

PALAVRA VIVIDA AO LONGO DO ANO LITÚRGICO

Termina mais um ano do ciclo litúrgico, com a Solenidade de Cristo Rei no próximo domingo.

Durante a semana podemos meditar sobre o crescimento da nossa fé a partir do encontro dominical e quotidiano com a Palavra de Deus na Eucaristia. Transformou-nos? Fez-nos crescer? Ou ficamos na mesma, passivos e estagnados?

com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Bilhete do Evangelho

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS-ANO C

07 de Novembro 2010


CELEBRAR OS SANTOS NA RESSURREIÇÃO

As Bem-aventuranças revelam a realidade misteriosa da vida em Deus, iniciada no Batismo. Aos olhos do mundo, o que os servidores de Deus sofrem, são efetivamente formas de morte: ser pobre, suportar as provas (os que choram) ou as privações (ter fome e sede) de justiça, ser perseguido, ser partidário da paz, da reconciliação e da misericórdia, num mundo de violência e de lucro, tudo isso aparece como não rentável, votado ao fracasso, consequentemente, à morte.
Mas que pensa Cristo? Ele, ao contrário, proclama felizes todos os seus amigos que o mundo despreza e considera como mortos, consola-os, alimenta-os, chama-os filhos de Deus, introduz no Reino e na Terra Prometida.
A Solenidade de Todos os Santos abre-nos assim o espírito e o coração às consequências da Ressurreição.
O que se passou em Jesus realizou-se também nos seus bem amados, os nossos antepassados na fé, e diz-nos igualmente respeito: sob as folhas mortas, sob a pedra do túmulo, a vida continua, misteriosa, para se revelar no Grande Dia, quando chegar o fim dos tempos.
Para Jesus, foi o terceiro dia; para os seus amigos, isso será mais tarde.

O EVANGELHO NO PRESENTE

Os membros de uma mesma família têm traços do rosto comuns…
As pessoas que partilham toda uma vida juntos acabam por se parecerem…
Esta festa anual de Todos os Santos reúne inúmeros rostos que trazem em si a imagem e a semelhança de Deus.
Um rosto de humanidade transfigurada. Enquanto vivos, os santos não se consideravam como tais, longe disso! Eles não esculpiam a sua efígie num fundo de auto-satisfação… Contrariamente àquilo que geralmente aparece nas imagens ditas piedosas e nas biografias embelezadas, eles não foram perfeitos, nem à primeira, nem totalmente, nem sobretudo sem esforço. Eles tinham fraquezas e defeitos contra os quais se bateram toda a vida.
Alguns, como S. Agostinho, vieram de longe, transfigurados pelo amor de Deus que acolheram na sua existência. Quanto mais se aproximaram da luz de Deus, tanto mais viram e reconheceram as sombras da sua existência.
Peregrinos do quotidiano, a maior parte deles não realizaram feitos heróicos nem cumpriram prodígios. É certo que alguns têm à sua conta realizações espetaculares, no plano humanitário, no plano espiritual, ou ainda na história da Igreja.
Mas muitos outros, a maioria, são os santos da simplicidade e do quotidiano! Canoniza-se muito pouco estas pessoas do quotidiano!

Um rosto com traços de Cristo.

Encontramos em cada um dos santos e das santas um mesmo perfil. Poderíamos mesmo desenhar o seu retrato-robô comum. Por muito frequentar Cristo, deixaram-se modelar pelos seus traços.
Como Jesus, os santos tiveram que viver muitas vezes em sentido contrário às ideias recebidas e aos comportamentos do seu tempo.
Viver as Bem-aventuranças não é evidente: ser pobre de coração num mundo que glorifica o poder e o ter; ser doce num mundo duro e violento; ter o coração puro face à corrupção; fazer a paz quando outros declaram a guerra… Os santos foram pessoas “em marcha” (segundo uma tradução hebraizante de “bem-aventurado”), isto é, pessoas ativas, apaixonadas pelo Evangelho… Os santos foram homens e mulheres corajosos, capazes de reagir e de afirmar a todo o custo aquilo que os fazia viver. Eles mostram-nos o caminho da verdade e da liberdade.
Aqueles que frequentaram os santos – aqueles que os frequentam hoje – afirmam que, junto deles, sentimos que nos tornamos melhores.
O seu exemplo ilumina. A sua alegria é o seu testemunho mais belo. A sua felicidade é contagiosa.

TER UM CORAÇÃO DE POBRE

Eram quatro casais amigos à volta da mesma mesa. Os copos estavam bem cheios e os pratos bem guarnecidos. No meio da refeição, a conversa centra-se nos acontecimentos da atualidade: Fala-se dos estrangeiros e imigrantes.
O debate aquece e cada um proclama o slogan tantas vezes repetido, o cliché veiculado pelos media… Todos parecem em uníssono.
Entretanto, um dos convivas, que estava em silêncio há alguns minutos, abrindo a boca, disse: “Não estou de acordo convosco, e vou dizer-vos porquê. Para mim, todo o homem é uma história sagrada, eu acredito nisso, deixai-me dizê-lo”. Imaginai o tempo de silêncio que se seguiu, enquanto os olhares e os garfos mergulharam nos pratos.
Naquela noite, ao longo de uma refeição entre amigos, passou-se qualquer coisa que nos faz ver o que é o Reino de Deus: um homem só, ousava deixar a multidão para dizer: “Não estou de acordo!” em nome da sua fé no homem e, no caso preciso, em nome da sua fé em Deus.
Não foi o que se passou no cimo de uma montanha da Palestina, há 2000 anos, quando um homem, Jesus de Nazaré, tendo diante de si os seus discípulos que tinham deixado a multidão para o seguir, “abrindo a boca”, se pôs a instrui-los e lhes falou de felicidade, mas de modo nenhum como o mundo fala dela?!
São estes discípulos que ele declara “bem-aventurados”. São Lucas, no seu Evangelho, será ainda mais preciso, pois escreverá: “erguendo os olhos para os discípulos…” E que lhes disse Ele? “Bem-aventurados vós, os pobres de coração, porque vosso é o Reino de Deus!”.
Eis a força contestatária de Jesus. E as outras seis bem-aventuranças estão lá para ilustrar a primeira, a da pobreza do coração. Quanto à última, ela aparece como a conclusão: “Sim, se vós viveis dessa vida, esperai ser perseguidos, porque isso impedirá as pessoas de dormir; isso inquietá-las-á, e como as pessoas não gostam de ser inquietadas, vós sereis perseguidos”.
As bem-aventuranças, se as queremos tomar a sério e sobretudo vivê-las, colocam-nos em situação de contestação e fazem-nos assumir riscos. Sim, em certos momentos, fazem-nos dizer, e sobretudo viver, um “Não estou de acordo” em nome da nossa fé.
Porque é que Jesus declara “felizes” os seus discípulos? Porque eles são pobres de coração, porque eles estão libertos de tudo o que poderia entravar a sua liberdade. Com efeito, a alegria é o fruto da liberdade.
Mas de que pobreza fala Jesus? Fala da pobreza que permite crer, esperar e amar.

O pobre é aquele que “faz crédito” em Deus.

“Fazer crédito” ou dizer “credo”, é a mesma coisa. Quando se fala de noivos, fala-se de duas pessoas que confiam entre si, que se fiam uma na outra, que “fazem crédito”. A desconfiança torna a pessoa infeliz.
Confiar é aceitar um certo abandono: aquele que grita em direção a Deus no meio do seu sofrimento ou da sua confusão, é aquele que confia sempre em Deus.

O pobre é também aquele que espera.

O rico não pode esperar, está plenamente satisfeito. O pobre, esse, está sempre virado para um futuro que espera que seja melhor; e, depois, ele procura, porque pensa nunca ter totalmente encontrado.
A sua vida é uma procura, e todos os sinais que ele encontra enchem-no de alegria e fazem-no avançar. O pobre é aquele que aceita ser criticado pela Palavra de Deus. Com efeito, pôr-se em questão só é possível para aquele que espera tornar-se melhor.

O pobre é aquele que ama.

Por não estar plenamente satisfeito consigo mesmo, o pobre está disponível para servir os seus irmãos. Não centrado em si próprio, abre os olhos e vê aqueles que esperam os seus gestos de amor; ouve os gritos dos seus irmãos e abre as suas mãos vazias para as estender àquele que tem necessidade.
A sua pobreza fá-lo receber e, ao mesmo tempo, dar o pouco que tem.
Jesus conhecia o coração do homem, e soube reconhecer no coração dos seus discípulos esta aspiração a crer, a esperar e a amar; é a razão pela qual ele os escolheu e chamou.
As bem-aventuranças vão, em tantas situações, contra a corrente, porque um homem, um dia, ousou abrir a boca para dizer aos seus discípulos: “Sois do mundo, e ao mesmo tempo não sois do mundo… Vós não sois do mundo do cada um para si, do consumo, da violência, da vingança, do comprometimento… E face a este mundo deveis dizer: não estou de acordo! É certo que sereis perseguidos ou, pelo menos, rir-se-ão de vós, ou procurarão fazer-vos calar. Felizes sereis, porque fareis ver onde está a verdadeira felicidade. Chamar-vos-ão santos”.
Festejamos neste dia todos aqueles que tomam de tal modo a sério as bem-aventuranças que são hoje plenamente felizes.
Queremos experimentar ser já felizes? Basta-nos ter um coração de pobre.

A SANTIDADE DE MUITOS

Fruto da conversão realizada pelo Evangelho é a santidade de muitos homens e mulheres do nosso tempo; não só daqueles que foram proclamados oficialmente santos pela Igreja, mas também dos que, com simplicidade e no dia a dia da existência, deram testemunho da sua fidelidade a Cristo. Como não pensar aos inumeráveis filhos da Igreja que, ao longo da história do continente europeu, viveram uma santidade generosa e autêntica no mais recôndito da vida familiar, profissional e social? «Todos eles, como “pedras vivas” aderentes a Cristo “pedra angular”, construíram a Europa como edifício espiritual e moral, deixando aos vindouros a herança mais preciosa. O Senhor Jesus havia prometido: “Aquele que acredita em Mim fará também as obras que Eu faço; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai'' (Jo 14,12). Os santos são a prova viva da realização desta promessa, e ajudam a crer que isto é possível mesmo nos momentos mais difíceis da história». [nº 14 da Exortação Apostólica Ecclesia in Europa de João Paulo II]


ALGUMAS PALAVRAS DE BENTO XVI EM PORTUGAL SOBRE O DINAMISMO DA SANTIDADE

» O horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade. Não era isso também o objetivo último da indulgência jubilar, enquanto graça especial oferecida por Cristo para que a vida de cada batizado pudesse purificar-se e renovar-se profundamente? […]
Na verdade, colocar a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de consequências. Significa exprimir a convição de que, se o Batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um contra-senso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial.
Perguntar a um catecúmeno: «Queres receber o Batismo?» significa ao mesmo tempo pedir-lhe: «Queres fazer-te santo?» Significa colocar na sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: «Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste» (Mt 5,48).
[João Paulo II, Novo Millennio Ineunte 30-31]

» Decisivo é conseguir inculcar em todos os agentes evangelizadores um verdadeiro ardor de santidade, cientes de que o resultado provém sobretudo da união com Cristo e da ação do seu Espírito. […]
A Igreja tem necessidade sobretudo de grandes correntes, movimentos e testemunhos de santidade entre os fiéis, porque é da santidade que nasce toda a autêntica renovação da Igreja, todo o enriquecimento da fé e do seguimento cristão, uma reatualização vital e fecunda do cristianismo com as necessidades dos homens, uma renovada forma de presença no coração da existência humana e da cultura das nações.
[Bento XVI, Discurso aos Bispos em Fátima, 13 de Maio de 2010]

» “É nos Santos que a Igreja reconhece os seus traços característicos e, precisamente neles, saboreia a sua alegria mais profunda. Irmana-os, a todos, a vontade de encarnar na sua existência o Evangelho, sob o impulso do eterno animador do Povo de Deus que é o Espírito Santo. […]
É preciso voltar a anunciar com vigor e alegria o acontecimento da morte e ressurreição de Cristo, coração do cristianismo, fulcro e sustentáculo da nossa fé, alavanca poderosa das nossas certezas, vento impetuoso que varre qualquer medo e indecisão, qualquer dúvida e cálculo humano. A ressurreição de Cristo assegura-nos que nenhuma força adversa poderá jamais destruir a Igreja. Portanto a nossa fé tem fundamento, mas é preciso que esta fé se torne vida em cada um de nós. […]
Queridos Irmãos e jovens amigos, Cristo está sempre conosco e caminha sempre com a sua Igreja, acompanha-a e guarda-a, como Ele nos disse: «Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20). Nunca duvideis da sua presença! Procurai sempre o Senhor Jesus, crescei na amizade com Ele, comungai-O. Aprendei a ouvir e a conhecer a sua palavra e também a reconhecê-Lo nos pobres. Vivei a vossa vida com alegria e entusiasmo, certos da sua presença e da sua amizade gratuita, generosa, fiel até à morte de cruz. Testemunhai a alegria desta sua presença forte e suave a todos, a começar pelos da vossa idade. Dizei-lhes que é belo ser amigo de Jesus e que vale a pena segui-Lo. Com o vosso entusiasmo, mostrai que, entre tantos modos de viver que hoje o mundo parece oferecer-nos – todos aparentemente do mesmo nível –, só seguindo Jesus é que se encontra o verdadeiro sentido da vida e,consequentemente, a alegria verdadeira e duradoura.
Buscai diariamente a proteção de Maria, a Mãe do Senhor e espelho de toda a santidade. Ela, a Toda Santa, ajudar-vos-á a ser fiéis discípulos do seu Filho Jesus Cristo.
[Bento XVI, Homilia em Lisboa, 11 de Maio de 2010]

» A relação com Deus é constitutiva do ser humano: foi criado e ordenado para Deus, procura a verdade na sua estrutura cognitiva, tende ao bem na esfera volitiva, é atraído pela beleza na dimensão estética. A consciência é cristã na medida em que se abre à plenitude da vida e da sabedoria, que temos em Jesus Cristo. A visita, que agora inicio sob o signo da esperança, pretende ser uma proposta de sabedoria e de missão. […] Viver na pluralidade de sistemas de valores e de quadros éticos exige uma viagem ao centro de si mesmo e ao cerne do cristianismo para reforçar a qualidade do testemunho até à santidade, inventar caminhos de missão até à radicalidade do martírio.
[Bento XVI, Discurso na chegada a Lisboa, 11 de Maio de 2010]

» “Sim! O Senhor, a nossa grande esperança, está conosco; no seu amor misericordioso, oferece um futuro ao seu povo: um futuro de comunhão consigo. […] A nossa esperança tem fundamento real, apoia-se num acontecimento que se coloca na história e ao mesmo tempo excede-a: é Jesus de Nazaré. […] Mas quem tem tempo para escutar a sua palavra e deixar-se fascinar pelo seu amor? Quem vela, na noite da dúvida e da incerteza, com o coração acordado em oração? Quem espera a aurora do dia novo, tendo acesa a chama da fé? A fé em Deus abre ao homem o horizonte de uma esperança certa que não desilude; indica um sólido fundamento sobre o qual apoiar, sem medo, a própria vida; pede o abandono, cheio de confiança, nas mãos do Amor que sustenta o mundo.
[Bento XVI, Homilia em Fátima, 13 de Maio de 2010]

Por: Padre Emílio Carlos+