segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Bíblia e Catequese












1. A linguagem humana da Bíblia

“Na oração falamos com Deus; na boa leitura é Deus que nos fala”(São Jerônimo)
A Bíblia abrange um período histórico de 1000 a.C. a 100 d.C. e representa uma preciosa fonte literária para a história da humanidade.
Fazendo jus à sua etimologia (do grego Biblion), a Bíblia constitui uma autêntica biblioteca, contendo uma coleção de livros bastante diversificada em relação à forma (extensão, vocabulário, estilo) e conteúdo.
A Bíblia apresenta relatos em prosa, códigos legislativos, provérbios e máximas morais, cartas, poesia lírica e dramática, profecias, liturgia, folclore, lendas. Traz inclusive imperfeições, lacunas deficiências científicas, filosóficas e religiosas que poderiam até nos escandalizar.
Percebemos até divergências na transmissão das próprias palavras de Jesus o que torna difícil, mas não impossível conciliar tantas diferenças e disparidades.
A Bíblia é a Palavra de Deus escrita com mão humana. Deus ao se revelar na história respeitou a liberdade e a linguagem humana tão pobre e tão precária. É bonito perceber que a Palavra de Deus assumiu uma roupagem humana (linguagem), mesmo com suas deficiências, do mesmo modo como Cristo assumiu a sua natureza humana.
A constituição do Vaticano II, sobre a Palavra Deus (Dei Verbum), aproxima o mistério da Bíblia ao mistério do Verbo encarnado: “as palavras de Deus, expressas em línguas humanas, tornaram-se intimamente semelhantes à linguagem humana, como outrora o Verbo eterno do Pai, tomando a carne da fraqueza humana, se tornou semelhante aos homens” (DV 13).
Ser fiel, portanto, ao mistério da Bíblia significa estar ciente de seu aspecto humano, que não foi absorvido pela Palavra de Deus, mas foi assumido por ela.

A Bííblia é o jornall de Deus ((Freii Beto))

Bíblia significa coleção de livros. Daí termos como biblioteca (depósito de livros) ou bibliografia (transcrição ou relação de livros).
A rigor, é inconcebível que um aluno diplomado na universidade jamais tenha lido a Bíblia ou, pelo menos, alguns de seus livros mais famosos.
Considerada uma obra inspirada por Deus, a Bíblia nutre a fé dos seguidores de duas grandes religiões: a judaica e a cristã.
Escrita em hebraico e grego ao longo de dez séculos, ela é expressão das vivências humanas e religiosas do povo hebreu.
A Bíblia só pode ser bem compreendida em seu contexto histórico, assim como o leitor de um jornal antigo que noticiou a queda de um ministro só será capaz de entender a notícia se resgatar a conjuntura em que se deu o fato.
Podemos comparar a Bíblia a um jornal, no qual Deus seria o diretor de Redação e os autores, como o profeta Isaías ou o evangelista Mateus, os editores.
Não é o diretor que escreve todos os textos publicados pelo jornal.
Mas é quem assegura a linha editorial que caracteriza a publicação.
Nem são os editores que necessariamente redigem os textos, mas são eles que lhes dão coerência, selecionando as informações segundo prioridades e enfoques estabelecidos pela direção do jornal.
Para aquecer a conversa (Cochichar dois a dois): existe diferença entre Bíblia e Palavra de Deus? Após a partilha e o confronto de idéias, ler o texto que se segue...
Como um jornal, a Bíblia tem um pouco de tudo: genealogias e descrições arquitetônicas, relatos de batalhas e prescrições culinárias, eventos históricos e poemas.
Judeus e cristãos acreditam que, por meio dessa variedade de gêneros literários, os autores manifestam a palavra de Deus e a resposta humana a essa palavra.
A partir desse texto, descobre-se que Deus fala hoje, através dos fatos, acontecimentos e pessoas. Está em andamento uma descoberta progressiva de que a Palavra de Deus não está só na Bíblia, mas também na vida, e de que o objetivo principal da leitura da Bíblia não é interpretar a Bíblia, mas sim interpretar a vida com a ajuda da Bíblia. A Bíblia ajuda a descobrir que a Palavra de Deus, antes de ser lida na Bíblia, já existia na vida...
“A palavra de Deus não é só a Bíblia, mas a Bíblia lida na atualidade sob a ação do Espírito Santo, no seio da Igreja e à luz de toda a tradição” (Gefré).

2. A línguas da Bíblia e o gênero literário

“Ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo”(São Jerônimo)
Para uma compreensão da Bíblia, é preciso despojar-se da mentalidade ocidental e entrar no clima cultural da Bíblia, livro escrito em linguagem humana. Isso ajuda a entender que a Bíblia é fruto de várias tradições, costumes e foi costurada por pessoas de diversas culturas e linguagens.
A Bíblia foi escrita em três línguas: hebraico, aramaico e grego. O hebraico está em quase todo o AT. O aramaico está presente em Esd 4,8 – 6,18; 7,12-26; Dn 2,4 – 7,28; Gn 31,47 (somente duas palavras em aramaico!); Jr 10,11. Em grego, foram escritos, originariamente: Sb e 2Mc. Mas alguns livros teriam sido originariamente escritos em hebraico (foram perdidos ou chegaram a nós
somente em versões gregas antigas), a saber, 1 Mc, Jd, Tb, seções de Dn 3,24-90; 13-14; Est (acréscimentos gregos antes de 1,1 e depois de 3,13 e 4,17; 5,1-2; depois de 8,12 e de 10,3).

Será que a língua é mesmo importante para o estudo da Bíblia?

A língua caracteriza um povo, revela sua sensibilidade para com as pessoas e para com o mundo; reflete a mentalidade e a cosmovisão de um povo. Enfim, expressa sua cultura. A tradução sempre altera alguma coisa do sentido daquilo que o escritor queria dizer. Cada tradutor traduz conforme sua própria visão.
O aramaico foi a língua dos nômades do que, em 2000 a.C. tinham invadido a Mesopotâmia e a Síria. Esses arameus serviam de intérpretes no comércio entre a Mesopotâmia, a Ásia Menor e as costas do Mediterrâneo. Sua língua tornou-se internacionalmente conhecida. Mais ou menos em 500 a.C., o aramaico tornou-se a língua da diplomacia.
A partir do exílio da Babilônia, os hebreus falavam tanto o aramaico quanto o hebraico.
Depois do exílio, o aramaico suplantou o hebraico. Este último passou a ser língua da Tradição, da literatura sacra, da liturgia. O aramaico foi a língua materna de Jesus. É esse dialeto que está na raiz das palavras de Jesus, que nos foram transmitidas pelo evangelho somente em grego.
Quanto ao grego contido na Bíblia, este se distingue do grego clássico dos filósofos. É mais simples e marcado por hebraísmos. Desenvolveu-se depois das conquistas de Alexandre Magno (±300 a.C.). Ele tornou-se uma língua comum (koiné, em grego, comum) falada e escrita.

Numa biblioteca, os livros são classificados como romances, novelas, história, geografia, bíblia, etc.

Também a Bíblia é uma biblioteca que levou mais ou menos dois mil anos para ser formada. Dois milênios de cultura estão aí retratados. A edição católica tem 46 livros no AT e 27 no NT. A Bíblia hebraica identificou implicitamente diversas formas literárias, ao classificar seus livros em três categorias: Lei, Profetas, Escritos. Para o AT, a bíblia cristã classificou-os em livros históricos, proféticos, sapienciais. Naturalmente também o Pentateuco. Para o NT, temos os Evangelhos (sinóticos e João), Atos, Cartas, Apocalipse. Trata-se de uma distinção superficial e concisa. A descoberta e o estudo científico de textos de povos contemporâneos ao mundo da bíblia
ajudaram a identificar, no conjunto da bíblia, várias formas de literatura.
Existe na exegese moderna um processo de pesquisa sobre os gêneros literários chamado de Crítica das Formas. Eis o conceito de gêneros literários: “várias formas ou maneiras de escrever, usadas comumente entre os homens de uma determinada época e região colocadas em relação constante com determinados conteúdos”.
Se quisermos conhecer o significado das páginas bíblicas, é indispensável o conhecimento dos gêneros literários. O Vaticano II suscitou a importância desse estudo (cf. DV 12).
“Assim como ninguém deixa de tomar um remédio porque na bula há um erro de concordância, também judeus e cristãos não se importam se encontram nos textos bíblicos um equívoco histórico.
A seus olhos, eles são, antes de tudo, textos religiosos. Não buscam ali noções de ciência ou história e sabem que os autores bíblicos não pretenderam alcançar precisão metodológica e científica.
Entrelaçaram referências religiosas, históricas e científicas segundo os conhecimentos da época.
Mas que importa a qualidade da fiação ou dos condutos eletrônicos, do poste ou do abajur, para quem busca luz para enxergar melhor?” (Frei Betto).

3. Bíblia e Revelação.

A leitura e a meditação da Escritura, Palavra de Deus e livro da vida, são como fontes que correm no coração e na vida das pessoas:
“É preciso que o acesso à Sagrada Escritura seja amplamente aberto aos fiéis” (DV 22).
A própria palavra revelação, já indica uma ação: "re-velar", ou seja, tirar o véu; fazer conhecer o que está encoberto ou velado. Revelação, é Deus agindo na história humana, dando-se a conhecer a todos e esperando do ser humano acolhimento e resposta de fé ao seu amor. O Vaticano II diz: “levado por seu grande amor, [Deus] fala aos homens como a amigos” (DV 2).
Deus rompeu o seu silêncio, manifestou-se e chamou os homens à comunhão com Ele.
Revelação é comunicação de Deus ao ser humano, de forma livre e gratuita. Deus revelou ao mundo o seu amor e a sua bondade por meio da criação.
Não bastasse a criação inteira, ele quis revelar-se em pessoa. Sua revelação se tornou plena em Jesus de Nazaré, “imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), rosto humano de Deus e rosto divino do homem. Graças a Jesus, conhecemos quem Deus é e o que Ele quer de nós. E é ele que orienta para acolher a Palavra de Deus revelada e comunicada a nós: “felizes os que ouvem a Palavra de Deus e
a põem em prática” (Lc 11,28).
A Bíblia é o livro sagrado que contém a revelação de Deus, por isso, deve ser lida e meditada com olhos da fé. Não se trata de um livro científico e histórico.
Na Lectio Divina (Leitura Orante), a leitura bíblica deve ser contemplativa (deixar o texto falar, colocar-se na cena), espiritual (ler inspirado pelo Espírito Santo e não em nossa vontade) e militante (a leitura deve nos questionar, nos transformar e nos impulsionar ao apostolado e ao ministério da Palavra).

Como nasceu a Sagrada Escritura?

A Bíblia não nasceu do jeito como a conhecemos hoje.
Primeiro os fatos aconteceram, o povo interpretou os fatos, acolhendo como Revelação de Deus e foi passando histórias e conceitos de boca em boca (tradição oral). Muito tempo depois, os textos são escritos. Á medida que vão sendo usados na oração, no fortalecimento da fé, vão sendo percebidos como “sagrados”. Reconhecendo a presença de Deus nesse caminho, finalmente os textos passam a ser declarados parte das Escrituras. Dá para perceber nesse processo um exemplo de união entre Tradição e Escritura? Dá para entender o dinamismo da Tradição?

No coração da catequese, a Palavra de Deus revelada em Jesus Cristo.

Algumas considerações importantes sobre a Revelação:
- A Revelação divina tem um aspecto pessoal, não se restringindo a um conjunto de doutrinas.
- A REVELAÇÃO se concretiza através de acontecimentos e palavras (DV 2).
- Deus se comunica conosco através da Palavra nas Escrituras, mas ele fala também na vida.

Palavra de Deus e apelos da vida se interpretam mutuamente.

Deus teve um jeito especial, surpreendente e completo para se revelar a nós: na pessoa de
JESUS DE NAZARÉ (cf. Jo 12,45; 14,9).
Jesus é a grande revelação de Deus. Ele é a palavra que ilumina todos os homens.
A fé é uma resposta pessoal ao convite que Deus nos faz à comunhão de vida com Ele. É dom, pura graça Deus. Não se fabrica e nem se garante pelo simples fato de realizar práticas religiosas. A fé requer adesão pessoal, é abandono total e disponibilidade para viver esta comunhão.
Além da Bíblia, a Igreja se baseia também na Tradição, a qual tem um papel fundamental na transmissão, na vivência e na compreensão da mensagem.
Tradição é toda a vida da Igreja. Não é algo morto, esquecido. Ela contém todo o patrimônio da fé da Igreja ao longo dos séculos. Não é algo acabado. Ela é dinâmica.
A Tradição e a Escritura não são coisas separadas. As duas formam uma só realidade, apresentadas de formas diferentes. A Tradição progride na Igreja com a orientação do Espírito Santo enquanto que a Escritura enquanto texto sagrado não muda.
TRADIÇÃO é diferente de TRADICIONALISMO:
A Tradição faz crescer a importância e a compreensão da mensagem. Ela progride, vai fazendo a história da Igreja, vai guardando o conteúdo da fé e vai fazendo a reflexão avançar.
Magistério da Igreja é o nome que usamos para nos referir ao exercício da autoridade de ensinar, de orientar a pastoral, de zelar pela autenticidade da mensagem e pelo progresso na compreensão da missão da Igreja e da vivência da fé. Os documentos oficiais, como a “Dei Verbum”, fazem parte deste magistério.
O Magistério da Igreja, que é tarefa própria dos bispos (ensinar e orientar para a vivência da fé), continua o trabalho dos apóstolos, supervisionando a transmissão da mensagem e zelando pela fidelidade às fontes.
Contudo, a Igreja inteira é responsável pela transmissão da fé e não somente os Bispos.
É bom distinguir: Inspiração depende de Deus. Interpretação depende do ser humano.
A Bíblia é considerada sagrada, Palavra de Deus, porque foi escrita sob a inspiração do Espírito Santo (DV 11).
Deus respeitou as pessoas que escreveram os textos sagrados, conservado seu estilo próprio e refletindo as condições da época em que viveram.
A Bíblia não é livro de ciência, história ou geografia. Nem traz receitas prontas. Ela é um livro de fé, que registra a experiência de fé de um povo, de pessoas que acolheram a revelação divina.
É necessário considerar em cada texto bíblico, o gênero literário que está sendo usado, bem como o tempo e a cultura do autor humano (DV 12).
Deus, para se revelar, se “ajustou” aos nossos limites de linguagem, tempo e cultura.
É preciso ler cada texto com atenção ao conjunto da mensagem da Escritura. Quem utiliza versículos isolados pode não compreender o verdadeiro sentido da mensagem.
O Povo da Bíblia percebeu sua missão, vendo-se como escolhido por Deus, destinatário da salvação, mensageiro e sinal da bênção divina para a humanidade.
A Revelação contida no AT está orientada para Cristo.
Estes livros, embora contenham coisas imperfeitas e transitórias, manifestam contudo a verdadeira pedagogia divina (DV 15).
Tradição é fidelidade à vida da Igreja, alimentada nas origens e aberta às necessidades de cada tempo e lugar.
Tradicionalismo é fixação ao passado (fazer por fazer), rejeição ao novo, medo do futuro, apego à rotina.
O NT testemunha os atos e as palavras de Jesus. Palavra encarnada do Pai, e a ressonância desses atos e palavras nas primeiras comunidades cristãs. Os evangelhos, é claro, têm merecido destaque: são o caminho para hoje podermos conhecer a pessoa e a mensagem de Jesus.
Os quatro evangelhos têm origem nos apóstolos que, por ordem do próprio Jesus, anunciaram a pessoa, a obra e a mensagem de seu Mestre.
Cada um organiza seu texto, escolhendo alguns fatos, destacando outros, para dar o recado de acordo com o objetivo que tem em mente. A variedade é um sinal da riqueza da mensagem, que pode ser tratada a partir de vários ângulos, sem deixar de ser verdadeira.
O ministério da Palavra é um caminho para a participação de muita gente na Igreja.
É necessário estimular e facilitar, para todas as pessoas, a leitura da Palavra de Deus.
Merecem atenção especial (cf. DV 23 e 25):
- O estudo dos santos padres da Igreja, para a vivência da fé.
-O estudo da liturgia, para compreender, amar e viver essa palavra.
- A contribuição dos exegetas, que abrem caminhos para interpretação desta palavra.
O estudo das Sagradas páginas seja como a alma da Sagrada Teologia. Da mesma palavra da Sagrada Escritura também se nutre salutarmente e santamente se fortalece o ministério da palavra, a saber: a pregação pastoral, a catequese e toda a instrução cristã, na qual deve ter lugar de destaque a homilia litúrgica (DV 24).

Ações concretas que estimulam a relação pessoal com a Escritura:

-Contato íntimo e pessoal com a Palavra de Deus.
- Cursos de formação bíblica.
- Leitura orante da Bíblia (Lectio Divina)..
-Uso de edições apropriadas.

Vamos refletir e grupo e partilhar as idéias:

1. Que valor damos à Revelação de Deus na Bíblia e na vida?
2. Catequista: Você já se deu conta do quanto você é indispensável pela transmissão da Palavra de Deus?
3. O que sabemos da história do povo do Antigo Testamento? Como entendemos a pedagogia de Deus no caminho desse povo?
4. Como alimentar nossa intimidade com a Bíblia?
4. As flores e os frutos da caminhada bíblica no Brasil

O CHÃO DA NOSSA VIDA:

As celebrações comunitárias ao redor da Palavra de Deus fizeram com que os ministros e ministras necessitassem de maior formação bíblica. O povo nas comunidades celebra a Palavra ao redor da Bíblia, rezando e cantando.
Nessas celebrações brotam toda criatividade, participação e vivência das pessoas. Elas expressam sua fé dentro de um jeito de celebrar. Há uma diversidade de forças vivas que ajudam tanta gente a encontrar uma maneira nova e entusiasmada de participar da vida da Igreja e crescer na fé.
O nosso povo usa a Bíblia pra tudo: orações, catequese, cursos, encontros, retiros, vigílias, sermões, discursos, músicas, gincanas, documentos, liturgia...
A Bíblia ajuda e ilumina tudo o que se faz na vida das comunidades.
“Quem trouxe a Bíblia?”. Se essa pergunta fosse feita a quarenta anos, ninguém levantaria a mão!
O uso da Bíblia revela grande amor pela Palavra de Deus. Só se percebe o resultado disso nas flores e frutos que aparecem depois de um tempo.
Tempos fortes: Advento, novena de natal, quaresma, campanha da fraternidade, mês
da Bíblia.

O CHÃO DA CATEQUESE:

A reflexão sobre o importante papel que a Bíblia exerce no processo catequético avançou bastante aqui no Brasil. Cabe aos catequistas esclarecer os pontos fundamentais da Bíblia, especialmente a proposta de Jesus contida no NT. Mas é importante ressaltar que a Bíblia, assim como o próprio Jesus, supõe um interlocutor adulto, alguém que está sedento em busca de um rumo para sua vida, assim como estava aquela samaritana que ia ao poço em pleno meio dia (cf. Jo 4).
Certos textos da Bíblia foram mal interpretados e se transformaram em historietas para crianças. Faz-se necessário, cada vez mais, descobrir que a Bíblia é um conjunto de livros, com os mais variados estilos literários, escritos para adultos que estão num processo formativo de fé.

Vale ressaltar:
A Bíblia é o livro mais importante da Catequese.
A Catequese não é completa se o fiel não descobrir a importância de ter em suas mãos a palavra de Deus.
É inaceitável um projeto catequético que não parta da Bíblia e que não leve para a Bíblia.
A Bíblia não é um manual de dogmas, mas um caminho. Ela pede de nós resposta prática, engajamento consciente, fé firme e uma caridade perfeita.
É conquista de toda uma vida.
A Bíblia na catequese quer ajudar os fiéis a descobrir a maneira como Deus nos fala hoje. E aonde precisamos ir para cumprir a sua vontade, com amor e fé!

5. Dez características para uma Leitura popular da Bíblia:

(Com base no pensamento de Carlos Mesters e Francisco Orofino)
1. A Bíblia é reconhecida e acolhida pelo povo como Palavra de Deus. É nesta raiz ou tronco bem firme da fé, que enxertamos nossa vida e nossos trabalhos.
2. Ao ler a Bíblia, trazemos à tona a vida do povo e a confrontamos com a nossa própria vida.
Ela aparece como espelho, numa ligação profunda entre fé e vida.
3. A partir desta nova ligação entre Bíblia e vida, os pobres fazem a descoberta, a maior de todas: "Se Deus esteve com aquele povo no passado, então Ele está também conosco nesta luta que fazemos para nos libertar. Ele escuta também o nosso clamor!" (cf. Ex 2,24; 3,7).
4. Antigamente, a Bíblia ficava longe. Era vista como livro dos "padres". Hoje ela está mais perto de nós, ajudando-nos a descobrir uma experiência nova e de gratuita de Deus em nossa vida e em nossa história.
5. Surgiram novas maneiras de se olhar e interpretar a Bíblia. Ela é instrumento precioso para fazer uma análise mais crítica da realidade que hoje vivemos.
6. A Palavra de Deus não está só na Bíblia, mas também na vida, e de que o objetivo principal da leitura da Bíblia não é interpretar a Bíblia, mas sim interpretar a vida com a ajuda da Bíblia.
7. A Bíblia entra por uma outra porta na vida do povo: não pela porta da imposição autoritária, mas sim pela porta da experiência pessoal e comunitária. Ela se faz presente não como um livro que impõe uma doutrina de cima para baixo, mas como uma Boa Nova que revela a presença libertadora de Deus na vida e na luta do povo.
8. Para que se produza esta ligação profunda entre Bíblia e vida, é importante:
a) ter convivência e experiência pastoral inserida no meio do povo; b) Descobrir que se pisa o mesmo chão, ontem e hoje (texto/contexto); c) Ter uma visão global da Bíblia, ligando-a com a situação concreta da vida, percebendo seu alcance e suas luzes.
9. A interpretação que o povo faz da Bíblia é uma atividade envolvente: trabalho e estudo de grupo, leitura pessoal e comunitária, teatro, celebrações, orações, etc. A criatividade torna rica a compreensão.
10. Para uma boa interpretação, é muito importante o ambiente de fé e de fraternidade, através de cantos, orações e celebrações. Pois o sentido da Bíblia não é só uma idéia ou uma mensagem que se capta com a razão e se objetiva através de raciocínios, é também um
sentir, uma consolação, um conforto que é sentido com o coração.

6. Catequese e Evangelização

“Evangelizar é, antes de tudo, não ignorar”. É o que disse o texto-base do Ano Catequético e acrescenta: Muitas vezes, “damos respostas sem ouvir as perguntas. Vamos ensinando o que achamos necessário, sem ouvir o que está no coração do interlocutor. Evangelização e catequese são estradas de mão dupla, num diálogo permanente e indispensável, tanto para criar laços como para
indicar os procedimentos pedagógicos mais adequados. Não dá para educar com profundidade pessoas que a gente não se interessa em conhecer” ( Texto-base do ano Catequético - nº 30).
“Não dá para educar com profundidade pessoas que a gente não se interessa em conhecer”(n. 30). Esta frase do texto-base é muito profunda. Estimado (a) Catequista, o quanto você conhece seus catequizandos e qual é seu real interesse por eles?
A catequese depende da Evangelização. Sem o anúncio do querigma não há catequese, não como como iniciar um caminho de discipulado.
Querigma é uma palavra de origem grega (kérygma).
Buscando suas origens, encontramos a seguinte explicação: Keryx, significa “quem proclama”. Kerysso, “a ação de proclamar”. Kerigma, “o conteúdo da proclamação”. O primeiro anúncio, o conteúdo do evangelho, portanto, precisa ser querigmático, onde a pessoa tenha um verdadeiro e duradouro contato com Jesus.
Precisamos tocar estes jovens com o nosso testemunho e nos interessarmos por eles profundamente. Só a partir disso, poderemos de fato “fazer” catequese, no sentido mais original da sua palavra: katechéo (do grego, fazer ecoar): “Na raiz etimológica do termo catequese, está o conceito de fazer eco, fazer ressoar. Ou seja, para que haja catequese, é necessário supor um som (sonido), uma voz, um conteúdo prévio que torne possível o eco, a ressonância. Sem este som, como será possível res-soar? Será possível
ressoar o silêncio ou o nada?” (Pe. Luiz Alves de Lima).
Olhando para a realidade de nossas comunidades nos deparamos com um problema bastante inquietante: nossa catequese pretende muitas vezes iniciar, mergulhar e aprofundar os catequizandos no mistério e quando nos deparamos com sua realidade de fé percebemos que pouca coisa ou quase nada existe. Será que nada foi semeado? Como fazer ressoar uma melodia que nem
se quer foi ouvida ou acolhida significativamente no coração dos catequizandos? E por que isso?
Herdamos uma situação, na qual supomos que nossos interlocutores (catequizandos) comparecem à catequese já evangelizados, já tendo recebido o anúncio primeiro através da família ou do ambiente sócio-cultural pretensamente cristão em que vivem. E isso nem sempre acontece.
Talvez um dos maiores desafios pastorais da Igreja hoje não seja tanto em converter aqueles que não tem fé, mas em RE-iniciar à fé aqueles que já receberam os sacramentos na Igreja, mas não foram verdadeiramente evangelizados e iniciados.
Fica para nós catequistas uma responsabilidade vital: A ressonância do nosso anúncio precisa ser desenvolvida: Deus nos ama, nos chama à comunhão e oferece um caminho de salvação.
Estamos diante de um aspecto da catequese que, com freqüência, se esquece: a necessidade de um anúncio que seja diálogo e expressão de testemunho pelo serviço. Um anúncio alegre e convicto de proclamação da fé em Jesus Cristo, cuja ressonância no interior da pessoa estará sempre latejando no coração do catequizando.
O documento de Aparecida diz: “A iniciação cristã, que inclui o querigma, é a maneira prática de colocar alguém em contato com Jesus Cristo e introduzi-lo no discipulado” (288). E diz mais adiante: “Sentimos a urgência de desenvolver em nossas comunidades um processo de iniciação na vida cristã que comece pelo querigma e que, guiado pela Palavra de Deus, conduza a um encontro pessoal, cada vez maior, com Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, experimentado como plenitude da humanidade e que leve à conversão, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um amadurecimento de fé na prática dos sacramentos, do serviço e da
missão” (DA 289).

É hora de re-avaliar a nossa caminhada e pensar qual é o rosto da nossa catequese:
1. Nossa catequese nos impulsiona para frente, nos motiva e nos empolga a caminhar no discipulado de Jesus? Ou nossa catequese está bastante acomodada, sem criatividade e sem entusiasmo?
2. Que tipo de catequista eu sou? Aquele que anuncia aos ventos (prega mas não vive o que anuncia) ou aquele que proclama sobre os telhados (prega e vive o que anuncia)?
3. Sou um alegre servidor da comunidade e discípulo do Reino ou apenas um tarefeiro, que executa todo o serviço, mas sem alegria, sem convicção e sem espiritualidade?
Como catequista, o que você tem a dizer sobre essa afirmação: “Vou fazer de qualquer jeito.
Quero ganhar esse jogo”?

Uma historinha que nos faz pensar: A BOMBA D’ÁGUA.

Um certo homem estava perdido no deserto, prestes a morrer de sede. Foi quando ele chegou a uma casinha velha – uma cabana desmoronando - sem janelas, sem teto, batida pelo tempo. O homem perambulou por ali e encontrou uma pequena sombra onde se acomodou, fugindo do calor do sol desértico.
Olhando ao redor, viu uma bomba a alguns metros de distância, bem velha e enferrujada.
Ele se arrastou até ali, agarrou a manivela, e começou a bombear sem parar. Nada aconteceu.
Desapontado, caiu prostrado para trás e notou que ao lado da bomba havia uma garrafa. Olhou-a, limpou-a, removendo a sujeira e o pó, e leu o seguinte recado: "Você precisa primeiro preparar a bomba com toda a água desta garrafa, meu amigo. Obs.: Faça o favor de encher a garrafa outra vez antes de partir."
O homem arrancou a rolha da garrafa e, de fato, lá estava a água. A garrafa estava quase cheia de água! De repente, ele se viu em um dilema: Se bebesse aquela água poderia sobreviver, mas se despejasse toda a água na velha bomba enferrujada, talvez obtivesse água fresca, bem fria, lá no fundo do poço, toda a água que quisesse e poderia deixar a garrafa cheia pra próxima pessoa...
mas talvez isso não desse certo.
Que deveria fazer? Despejar a água na velha bomba e esperar a água fresca e fria ou beber a água velha e salvar sua vida? Deveria perder toda a água que tinha na esperança daquelas instruções pouco confiáveis, escritas não se sabia quando?
Com relutância, o homem despejou toda a água na bomba. Em seguida, agarrou a manivela e começou a bombear... e a bomba começou a chiar. E nada aconteceu!
E a bomba foi rangendo e chiando. Então surgiu um fiozinho de água; depois um pequeno fluxo, e finalmente a água jorrou com abundância! A bomba velha e enferrujada fez jorrar muita, mas muita água fresca e cristalina. Ele encheu a garrafa e bebeu dela até se fartar. Encheu-a outra vez para o próximo que por ali poderia passar, arrolhou-a e acrescentou uma pequena nota ao bilhete preso nela: "Creia-me, funciona! Você precisa dar toda a água antes de poder obtê-la de volta!".

O que aprendemos com esta historinha?

Vamos abrir um espaço para partilha das idéias e ensinamentos que tiramos desta parábola.
Pra esquentar a conversa podemos elencar algumas lições concretas:
1. Ouça atentamente o que Deus tem a te dizer através da Bíblia e confie. Como esse homem, nós temos as instruções por escrito à nossa disposição. Basta usar.
2. Saiba olhar adiante e compartilhar! Aquele homem poderia ter se fartado e ter se esquecido de que outras pessoas que precisassem da água pudessem passar por ali. Ele não se esqueceu de encher a garrafa e ainda por cima soube dar uma palavra de incentivo. Se preocupe com quem está próximo de você, lembre-se: você só poderá obter água se a der antes. Cultive seus relacionamentos, dê o melhor de si!
3. Nenhum esforço que você faça será válido, se ele for feito da forma errada. Você pode passar sua vida toda tentando bombear algo quando alguém já tem reservado a solução para você. Preste atenção a sua volta! Deus está sempre pronto a suprir suas necessidades!
4. Agora é a sua vez... (O que ficou mais forte para você desta parábola?).

Seja um catequista em quem a Palavra de Deus possa ser o Livro vivo e vivido em sua vida .

Com minha benção
Pe.Emílio Carlos!

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