Durante a sua vida, o rico de quem ignoramos o nome conheceu uma certa felicidade, enquanto que o pobre Lázaro conheceu a infelicidade.
A felicidade nesta terra é efêmera pois está ligada às riquezas.
A infelicidade é provisória porque a verdadeira riqueza será dada.
Então, é preciso que a morte intervenha para que cada um encontre o seu verdadeiro lugar e a justiça seja feita: o pobre é elevado, ele que tinha sido rebaixado, ele a quem os cães vinham lamber as chagas.
Quanto ao rico, é enterrado, ele que trazia vestes de luxo e fazia festins sumtuosos. São os pobres que são exaltados porque esperam a consolação de Deus.
São os ricos que são enterrados, porque procuram a sua própria consolação.
À ESCUTA DA PALAVRA.
Eis ainda uma parábola sobre a má riqueza.
Notemos, em primeiro lugar, que é a única parábola em que Jesus dá um nome a um dos protagonistas da história que inventa.
O pobre chama-se Lázaro. Este nome, em hebraico, significa “Deus socorreu”. É bem isto que Jesus fez pelo seu amigo.
O rico, esse, é descrito com todo o fausto que o rodeava: vestidos luxuosos, festins sumtuosos e quotidianos.Mas não tem nome.
Ele é “o rico”. Aos olhos de Deus, os que ocupam o primeiro lugar são os pobres. Vamos mais longe. Uma frase é central no relato: “Lázaro bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas”. Uma frase muito próxima da parábola do filho pródigo, quando o filho mais novo lamenta não poder comer as bolotas dos porcos.
O filho mais novo simboliza, sem dúvida, o homem pecador fechado na sua solidão.
O pobre Lázaro, esse, é vítima do pecado do rico, mas o resultado é o mesmo: não são vistos por ninguém. Ninguém lhes dá atenção. Só os cães vêm lamber as chagas do pobre.
Temos aí uma descrição muito realista do que são muitas vezes as nossas relações. “O rico” é um nome anônimo.
As nossas relações não são muitas vezes anônimas?
Mesmo com os nossos mais próximos, não acontece, por vezes, que não os vemos verdadeiramente, a ponto de esquecer simplesmente de lhes dizer bom dia, de estar atentos a eles.
A indiferença é verdadeiramente um pecado que pode matar.
Nomeando o pobre Lázaro, Jesus recorda-nos, ao contrário, que, para Ele e para o seu Pai, cada ser humano é olhado como único.
Jesus veio compensar o olhar vazio e anônimo do rico. Veio socorrer todos os pobres – é o sentido do nome de Lázaro! Mais ainda que Moisés e os profetas, é Jesus que devemos escutar, para agir como Ele.
PALAVRA PARA O CAMINHO…
E nós hoje?
As palavras de Amós atingem sem compaixão aqueles que não se preocupam com o desastre de Israel.
Lucas põe em cena um homem rico fechado no luxo, que não tem mesmo qualquer olhar para o pobre Lázaro que está à sua porta.
E nós hoje?
Ricos ou não, diante de todos os desastres do mundo, temos um olhar diferente para com todos os “Lázaros” da nossa sociedade ou ficamo-nos por um simples relance no ecrã da televisão?
Ouvimos os golpes discretos à nossa porta? Ou serão somente cães a dar-lhes assistência?
Pe. Emílio Carlos+
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