quinta-feira, 14 de outubro de 2010

GRAÇA BARATA OU CARA?

A graça não é o contrário do esforço!
Uma vez eu cheguei a começar um texto com o título de “graça barata ou cara?”, mas nunca terminei, porque eu não sabia a resposta.
O que eu posso dizer é que eu não suporto o discurso exagerado dos liberais. E ao mesmo tempo eu não agüento o discurso cheio de regras, cheio de pode e não pode cheio de doutrina de homens fanáticos ou como fariseus hipócritas que impõe leis para os outros, mas não conseguem empurrar o fardo com seu dedo.
A verdade é que os liberais exageram a ponto de pensar que nada que eles façam, sejam ou pensem tenha algum significado para Deus. E por outro lado os fanáticos moralistas pensam que tudo que eles façam, sejam ou pensem fará com que Deus mais os odeie ou ame. Ambos caem na não-graça.
Não que a graça não seja como “não há nada que possamos fazer para Deus nos amar mais e não há nada que possamos fazer para Deus nos amar menos”, porém o amor de Deus também se manifesta mediante o zelo, e o ciúme do Espírito Santo, ou seja, Deus nos ama tanto a ponto de se recusar em aceitar o estilo de vida errado que podemos estar vivendo.
Ele nós quer livre!
Quando eu defendo que não há nada que devamos fazer além de amar ao próximo como a nós mesmos e como Ele nos amou e que esta é a lei maior a que temos que viver e por em prática como cristãos que somos, não me entenda mal.
Eu não estou negando o resto da Bíblia, exatamente o contrário eu estou a reafirmando. Porque foi nela que eu descobri isso. E o cumprimento de toda a Lei se resume nisso.
Também não me entenda mal ao dizer que o amor de Cristo por nós vai além de tudo o que fizemos.
Eu não estou negando a Bíblia ao fazer isso, eu estou a reafirmando. Basta você lembrar-se de Moisés (um assassino), Davi (um adúltero e homicida), Paulo (um assassino de cristãos) ou até mesmo do assassino (ninguém é crucificado só por ser ladrão) na cruz do calvário que ainda naquele dia iria se encontrar com Jesus no paraíso, não havia nada que ele pudesse fazer para ser salvo, a não ser aceitar a salvação.
Porém, apesar de todas as evidências de um Deus amoroso que perdoa os pecadores, e oferece vida nova, ainda assim eu acredito em inferno.
A graça é graça desde que nós a aceitemos como ela é.
É impossível receber um presente de mãos fechadas.
É impossível ser amado sem aceitar.
Um “ladrão” aceitou Jesus como Santo e Messias, já outro o negou e evidentemente seguiu o caminho da perdição.
Negar a existência do inferno e a necessidade de viver uma vida santa e irrepreensível diante de Deus e dos homens por ter sido salvo é graça, mas não posso negar que precisa de minha participação neste mistério do amor reconciliador de Deus.
E que não é moralismo que me salva e nem liberalismo, mas sim a prática do Evangelho e da verdade de vida na conduta do meu viver o Evangelho, numa religião que não é ritual, dogmatismo, moralismos, ou coisas parecidas.
Mas acredito no caminho da conversão que não exige meu esforço e minha conduta de vida naquilo que professo minha fé e que não vivo de condicionamentos, conivências, condescendências, conveniências. Que diz uma coisa aqui e outra acolá. Dentro da Igreja um rosto de santo “de pau oco” e lá fora um demônio em forma de gente.
Nós somos salvos pela graça, mediante a fé.
Isso é claro, porque se alguém se salvar ele não precisa de Deus, ele se tornar orgulhoso e o orgulho é o pior dos pecados.
Mas ao mesmo tempo somos salvos para as boas obras, e as boas obras como afirmava São Tiago é a confirmação da fé: pois a fé sem obras é morta e obras sem fé para mim é vã.
A pessoa quando entrega sua vida a Jesus a entrega por completo, aceitar Jesus sem aceitar o padrão moral da fé cristã e sem aceitar que nosso corpo agora pertence a ele é aceitar um cristianismo-barato, é aceitar outro cristianismo, outro evangelho, é crucificar Jesus de novo.
Somos chamados para ser um povo piedoso que pensa, sente e age de acordo com os princípios do Céu. Para que o Espírito recrie em nós o caráter de nosso Senhor, só nos envolvemos naquelas coisas que produzirão em nossa vida pureza, saúde e alegria semelhantes às de Cristo.
Mas piedade não pode ser confundida com uma vida piegas e sem compromissos e responsabilidades.
Para ser verdadeiramente cristão, o comportamento tem que ser movido pelo poder do amor divino.
“O amor de Cristo nos constrange” (II Cor. 5,14). “Nós amamos porque Ele [Deus] nos amou primeiro” (I João 4,19).
Conforme Jesus ensinou claramente no Sermão da Montanha (Mat. 5-7), a estrita retidão de comportamento externo destituída da motivação do amor não é a regra do Reino de Deus. Somente depois de aceitar a graça e o amor de Deus em Cristo Jesus é que nosso procedimento pode ser verdadeiramente cristão.
A aceitação da obra de Cristo em favor da nossa salvação é o que prepara o terreno para um comportamento moral capaz de corresponder ao amor de Deus. Tendo sido inundado pela gratidão e pela abundância do amor de Deus, o cristão está preparado para agir por amor.
Por outro lado, sem a graça de Deus, qualquer ênfase em altos padrões de comportamento é mais do que ineficaz; geralmente se torna destrutiva. Tende a despertar sentimentos de orgulho em função dos êxitos morais ou desespero por causa das falências morais.
Creio que a única forma de sermos curados do legalismo é reconhecer nossa pobreza espiritual e aceitar o sempre disponível perdão divino.(Rom. 1-6).
Adotar os amplos princípios da Palavra de Deus como o fundamento do caráter.
A compreensão dos amplos princípios das Escrituras nos protege contra a intolerância moral. Jesus disse aos fariseus: “Hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Mat. 23,23).
Os amplos princípios bíblicos, começando com o princípio do amor, ajudam a estabelecer prioridades para que as pequenas coisas não recebam mais importância do que aquelas que realmente devem merecer nossa melhor atenção.
Adotar os elevados padrões de vestuário, modéstia, regime alimentar e recreação, deve ser uma bênção verdadeira. Mas essas observâncias podem se tornar motivo de piadas por parte de pessoas que manifestam posições racistas ou não se sensibilizam diante dos tremendos desafios da violência, pobreza e da fome. Discutir as questiúnculas do regime alimentar sem se preocupar com quem está morrendo de fome é uma enorme contradição. Vez após vez, a Bíblia nos convida a ajustarmos nosso foco sobre as questões verdadeiramente centrais.
A compreensão dos princípios bíblicos centrais requer muito estudo e reflexão. Quando Jesus exaltou a confiança infantil, estava apelando por um espírito de humildade (Mat. 18,1-4) e não desprezando o valor da obediência. Uma criança tem de ser ensinada a obedecer antes que possa questionar se isso é ou não possível. Mas esse não é o alvo da maturidade cristã.
Vou tomar uma ilustração como exemplo: em uma casa que se tem duas pequenas de 9 anos. São semelhantes em muitos aspectos. Geralmente obedecem – na maior parte do tempo. E quando desobedecem, deixam transparecer o senso de culpa. Mas, apesar de tudo isso, nossas expectativas são bem diferentes para as duas. Uma está se preparando para se tornar uma pessoa moralmente responsável. A outra jamais. Essa chocante diferença decorre do enorme abismo entre as duas em termos de capacidade para entender as razões para se comportar de uma ou outra forma.
Por isso creio que: “A disciplina de um ser humano que haja atingido os anos da inteligência, deve diferir do ensino de um animal irracional.” Veja esta frase e questione: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta”( Albert Einstein). Se o “bom comportamento” fosse a única coisa em termos de moralidade, então seria muito mais fácil treinar um animal do que educar uma criança. Mas para que os verdadeiros princípios possam atuar em um ser moralmente maduro, o dom da razão não pode ser desconsiderado. Creio que esse deveria ser um alvo de cada norma cristã.
Quando Jesus disse que “o sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado” (Mar. 2,27), estabeleceu uma verdade que pode ser aplicada a todos os padrões de comportamento. Aplicar normas de comportamento de forma a destruir pessoas deve ser algo fortemente desestimulado.
Esse conceito de que normas de comportamento devem ser usadas em favor de construir relacionamentos inclui a sensibilidade às diferenças culturais. Um óbvio exemplo tem a ver com os hábitos de vestuário. A Bíblia ensina a modéstia em termos de vestuário e aparência pessoal (I Ped. 3,1-4; I Cor. 11,4-6). Esse é um princípio geral. Mas o que conta como modéstia, em qualquer aplicação particular desse princípio, deve ficar dentro do limite das práticas culturais. Por essa razão, nossa declaração de crenças fundamentais, nesse ponto, recomenda o vestuário “simples e modesto e de bom gosto, embora reconheçamos as diferenças culturais”.
Esse detalhe é particularmente importante, pois fazemos parte de um movimento mundial. Agora mesmo enquanto escrevo este texto estou inserido em uma cultura diferente daquela na qual nasci. Aliás, é comum eu achar que se determinada coisa está bem em relação à minha cultura, então deve estar bem para todos. Mas a verdade transcultural do amor e da graça de Deus deveria transformar os últimos traços de toda essa arrogância cultural.
Acho que em parte era isso que Paulo estava querendo dizer quando afirmou que seu desejo era identificar-se com todos os grupos de pessoas para que pudessem ganhá-los para o Evangelho (I Cor. 9,19-23).
Muito mais poderia (e deveria) ser dito a respeito da maturidade do comportamento cristão. Mas acho que uma declaração curta e direta pode ser o suficiente: Como um cristão, creio que o mais elevado padrão para o meu comportamento não é uma regra nem um princípio; não é dogmatismos, devocionalismo, moralismos, liberalismo, conservadorismos, ritualismos, é a vida do Senhor Jesus, a quem todos os padrões devem estar subordinados.
Somente Jesus deu-nos o “exemplo para que pudéssemos seguir os Seus passos, pois Ele não cometeu pecado” (I Ped. 2,21-22).
A confusão que campeia nessa matéria resulta da falta de disposição de cristãos professos para levar a sério a Palavra do Senhor. O cristianismo está tão emaranhado no mundo que milhões nunca percebem quão radicalmente abandonaram o padrão do Novo Testamento. A transigência está por toda parte. O mundo está suficientemente caiado, encobrindo as suas faltas, para passar no exame feito por cegos que posam como cristãos; e esses mesmos cristãos estão eternamente procurando obter aceitação da parte do mundo. Mediante mútuas concessões, homens que a si mesmos se denominam cristãos manobram para ficar bem como homens que para as coisas de Deus nada têm, senão mudo desprezo.
Toda esta questão é espiritual, em sua essência. O cristão é o que não é por manipulação eclesiástica, mas pelo novo nascimento. É cristão por causa de um Espírito que nele habita. Só o que é nascido do Espírito é espírito. A carne nunca pode converter-se em espírito, não importa quantos homens considerados dignos da igreja nela trabalhem. A confirmação, o batismo, a santa comunhão, a profissão de fé – nenhum destes, nem todos estes juntos, podem transformar a carne em espírito, e tampouco podem fazer de um filho de Adão um filho de Deus. “E, porque vós sois filhos”, escreveu Paulo aos gálatas, “enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.” E aos coríntios, ele escreveu: “Examinai-vos a vós mesmos, se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados”. E aos romanos: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vós.
E se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”.
A terrível zona de confusão tão evidente em toda a vida da comunidade cristã, poderia ficar esclarecida num só dia, se os seguidores de Cristo começassem a seguir a Cristo em vez de uns aos outros.
Pois o nosso Senhor foi muito claro em Seu ensino sobre o cristão e o mundo.
Numa ocasião, depois de receber não solicitado e carnal conselho de irmãos sinceros, mas não esclarecidos, o nosso Senhor respondeu: “O meu tempo ainda não chegou, mas o vosso sempre está presente. Não pode o mundo odiar-vos, mas a mim me odeia, porque eu dou testemunho a seu respeito de que as suas obras são más”. Ele identificou os Seus irmãos na carne com o mundo e disse que Ele e eles eram de dois espíritos diferentes. O mundo O odiava, mas não podia odiá-los porque não podia odiar-se a si próprio. Uma casa dividida contra si mesma não subsiste. A casa de Adão tem que permanecer leal a si própria, ou se romperá. Conquanto os filhos da carne possam brigar entre si, no fundo estão unidos uns aos outros. É quando o Espírito de Deus entra que entra um elemento estrangeiro. “Se o mundo vos odeia”, disse o Senhor aos Seus discípulos, “sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia.”. Paulo explicou aos gálatas a diferença entre o filho escravo e o livre: “Como, porém outrora, o que nascera segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora” (Gálatas 4,29).
Assim, através do Novo Testamento inteiro, é traçada uma aguda linha entre a igreja e o mundo. Não há meio termo. O Senhor não reconhece nenhum bonzinho “concordar para discordar” para que os seguidores do Cordeiro adotem os procedimentos do mundo e andem pelo caminho do mundo. O abismo que há entre o cristão e o mundo é tão grande como o que separou o rico de Lázaro. E, além disso, é o mesmo abismo, isto é, é o abismo que separa o mundo, dos resgatados do mundo; do mundo, dos que continuam caídos.
Bem sei, e o sinto profundamente quão ofensivo esse meu ensino deve ser para aquele bando de mundanos que mói e remói o rebanho tradicional.
Que fica no ritualismo e tradicionalismo ou que caem em um liberalismo total, mas a graça exige o esforço.

Não posso alimentar a esperança de escapar da acusação de fanatismo e intolerância que, sem dúvida, lançarão contra mim os confusos de apenas espírito religioso de tradição que procuram fazer-se ovelhas por associação. Mas bem podemos encarar a dura verdade de que os homens não se tornam cristãos associando-se com gente de igreja, nem por contato religioso, nem por educação religiosa; tornam-se cristãos somente por uma invasão da sua natureza, invasão feita pelo Espírito de Deus por ocasião do novo nascimento. E quantos se tornam cristãos assim, imediatamente passam a ser membros de uma nova geração, uma “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia” (I Pedro 2,9-10).
Com os versículos citados, não houve desejo de os citar fora do contexto, nem de focalizar a atenção num lado da verdade para desviá-lo de outro. O ensino desta passagem forma completa unidade com toda a verdade do Novo Testamento. É como se tirássemos um copo de água do mar. O que tiraríamos não seria toda a água do oceano, mas seria uma amostra real e em perfeito acordo como o restante.
A dificuldade que nós cristãos contemporâneos enfrentamos não é a de entender mal a Bíblia, mas a de persuadir os nossos indóceis corações a aceitarem as suas claras instruções. O nosso problema é conseguir o consentimento das nossas mentes amantes do mundo para termos Jesus como Senhor de fato, bem como de palavra. Pois uma coisa é dizer, “Senhor, Senhor”, e outra completamente diferente é obedecer aos mandamentos do Senhor. Podemos cantar, “Coroado O Senhor”, e regozijar-nos com os agudos e sonoros tons dos ministérios de música e com a profunda melodia de vozes harmoniosas, mas ainda não teremos feito nada enquanto não abandonarmos o mundo e não fizermos o nosso rostos na direção da cidade de Deus na dura realidade prática. Quando a fé se torna obediência, aí é de fato fé verdadeira.
O espírito do mundo é forte, e gruda em nós tão entranhadamente como cheiro de fumaça em nossa roupa. Ele pode mudar de rosto para adaptar-se a qualquer circunstância e assim enganar muito cristão simples, cujos sentidos não são exercitados para discernir o bem e o mal. Ele pode brincar de religião com todas as aparências de sinceridade. Ele pode ter acessos de sensibilidade de consciência, e até pode confessar os seus maus caminhos pela imprensa pública. Ele louvará a religião e bajulará a igreja por seus fins. Ele contribuirá para as causas de caridade e promoverá campanha para distribuir roupas aos pobres.
Basta que Cristo guarde distância e que nunca afirme o Seu senhorio sobre ele. Positivamente isso não durará. E para com o verdadeiro Espírito de Cristo, só mostrará antagonismo. A imprensa do mundo (que é seu real porta-voz) raramente dará tratamento justo a um filho de Deus. Se os fatos a compelem a uma reportagem favorável, o tom tende a ser condescendente e irônico. Ressoa nela a nota de desdém.
Tanto os filhos deste mundo como os filhos de Deus foram batizados num espírito, mas o espírito do mundo e o Espírito que habita nos corações dos homens nascidos duas vezes acham-se tão distanciados um do outro como o céu do inferno.
Não somente são o completo oposto um do outro, mas também estão em extremo combate um contra o outro, e em agudo antagonismo um contra o outro. Para um filho da terra as coisas do Espírito são, ou ridículas, caso em que ele se diverte, ou sem sentido, caso em que ele se aborrece. “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente.”
Na Primeira Epístola de João duas palavras são empregadas uma e outra vez, as palavras eles e vós, e elas designam dois mundos totalmente diversos; vós refere-se aos escolhidos, que deixaram tudo para seguir a Cristo. O apóstolo não se põe genuflexo, de joelhos, ante o deusote Tolerância (cujo culto se tornou na América uma espécie de religião de segunda capa); João é grosseiramente intolerante. Ele sabe que a tolerância pode ser simplesmente outro nome para a indiferença.
Exige-se vigorosa fé para aceitar o ensino do experimentado João. É muito mais fácil apagar as linhas de separação e, assim, não ofender ninguém.
Generalidades piedosas e o emprego de nós para significar tanto cristãos como descrentes, é muito mais seguro.
A paternidade de Deus pode ser ampliada para incluir toda gente, desde Jack, o Estripador, até Daniel, o Profeta. Assim, ninguém fica ofendido e todos se sentem banhados e prontos para o céu. Mas o homem que se reclinara sobre o peito de Jesus não foi enganado assim tão facilmente. Ele traçou uma linha para dividir em dois campos a raça humana, para separar dos salvos os perdidos, dos que se afundarão no desespero final os que subirão para a recompensa eterna. De um lado estão eles — aqueles que não conhecem a Deus; de outro, vós (ou, com uma mudança de pessoa, nós), e entre ambos está um abismo moral largo demais para qualquer homem atravessar.
Eis aqui o modo como João o declara: “Filhinhos, vós sois de Deus, e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. Eles procedem do mundo; por essa razão falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro”. Uma linguagem como esta é clara demais para confundir qualquer pessoa que honestamente queira conhecer a verdade. Nosso problema não é de entendimento, repito, mas de fé e obediência. A questão não é teológica: Que é que isto ensina?
É moral: Estou disposto a aceitar isto e arcar com as conseqüências?
Posso agüentar o olhar frio?
Tenho coragem de enfrentar os acerbos ataques movidos pelos modernistas?
Ouso provocar o ódio dos homens que se sentirão apontados por minha atitude?
Tenho suficiente independência mental para desafiar as opiniões da religião piegas, ritualista e de acompanhar um apóstolo?
Ou, em resumo, posso persuadir-me a tomar a cruz com o seu sangue e com o seu opróbrio?

O cristão é chamado para ficar separado do mundo, mas precisamos ter certeza de que sabemos o que queremos dizer (ou, mais importante, o que Deus quer dizer) com o mundo. É provável que o façamos significar alguma coisa externa apenas, perdendo, assim, o seu significado real. Teatro, cartas, bebidas, jogos — estas coisas não são o mundo; são simples manifestações externas do mundo. A nossa luta não é apenas contra os procedimentos do mundo, mas contra o espírito do mundo. Porquanto o homem, salvo ou perdido, essencialmente é espírito. O mundo, no sentido neotestamentário do termo, é simplesmente a natureza humana não regenerada onde quer que esta se encontre, quer no bar, quer na igreja. O que quer que brote da natureza decaída, ou seja, edificado sobre ela ou dela receba apoio, é o mundo, seja moralmente vil ou moralmente respeitável. Os antigos fariseus, a despeito da sua zelosa dedicação à religião, eram da própria essência do mundo.
Os princípios espirituais sobre os quais eles construíram o seu sistema foram retirados, não do alto, mas de baixo. Eles empregaram contra Jesus as táticas dos homens. Subornavam os homens para dizerem mentiras em defesa da verdade.
Para defender Deus, agiam como demônios.
Para proteger a Bíblia, desafiavam os ensinamentos da bíblia. Eles sabotavam a religião para salvá-la. Davam rédeas soltas ao ódio cego em nome da religião do amor. Vemos aí o mundo com todo o seu cruel desafio a Deus. Tão feroz foi esse espírito, que não descansou enquanto não levou à morte o próprio Filho de Deus. O espírito dos fariseus era ativa e maliciosamente hostil ao Espírito de Jesus, pois cada qual era uma espécie de destilação de ambos os respectivos mundos dos quais provinham.
Os mestres atuais que situam o Sermão do Monte nalguma outra dispensação que não esta e, assim, liberam a igreja do seu ensino, mal percebem o mal que fazem.
Pois o Sermão do Monte dá em resumo as características do Reino dos homens regenerados. Os bem-aventurados pobres que choram seus pecados e têm sede de justiça são verdadeiros filhos do Reino. Com mansidão mostram misericórdia para com os seus inimigos; com sincera simplicidade contemplam a Deus; rodeados de perseguidores, abençoam, e não amaldiçoam. Com modéstia escondem as suas boas obras e com paciência aguardam a visível recompensa de Deus. Livremente renunciam aos seus bens terrenos, em vez de usar a violência para protegê-los.
Eles acumulam os seus tesouros no céu. Evitam os elogios e esperam o dia da prestação final de contas para saber quem é maior no Reino do céu.
Se esta é uma visão bem precisa das coisas, que podemos dizer quando cristãos disputam entre si lugar e posição?
Que podemos responder quando os vemos famintamente procurando homenagens e louvor?
Como podemos desculpar a paixão por publicidade, tão claramente evidente entre os líderes cristãos?
Que dizer da ambição política nos círculos cristãos?
E das febris mãos estendidas para mais e maiores “oferendas de amor”?
Que dizer do desavergonhado egoísmo entre os cristãos?
Como explicar o grosseiro culto do homem que habitualmente infla um ou outro líder popular dando-lhe somas endinheiradas, beijo dado por aqueles que se propõe como fiéis pregadores do Evangelho?

Há só uma resposta a essas perguntas, é simplesmente que nessas manifestações vemos o mundo, e nada senão o mundo.
Nenhuma apaixonada declaração de “amor” às “almas” pode transformar o mal em bem. Estes são os mesmos pecados que crucificaram Jesus.
Também é verdade que as mais grosseiras manifestações da natureza humana decaída fazem parte do reino deste mundo. Diversões organizadas com ênfase em prazeres frívolos, os grandes impérios edificados em hábitos viciosos e inaturais, o irrestrito abuso dos apetites normais, o mundo artificial denominado “alta sociedade” – todas estas coisas são do mundo. Todas fazem parte daquilo de que a carne consiste, daquilo que se edifica sobre a carne e que há de perecer com a carne.
E dessas coisas o cristão deve fugir. Todas essas coisas ele tem que pôr para trás e nelas não deve tomar parte. Contra elas deve pôr-se serena, mas firmemente, sem transigência e sem temor.
Portanto, que o mundo se apresente em seus aspectos mais feios, quer em suas formas mais sutis e refinadas, devemos reconhecê-lo pelo que ele é, e repudiá-lo categoricamente. Precisamos fazer isso, se é que desejamos andar com Deus em nossa geração como Enoc o fez na sua.
Um rompimento puro e simples com o mundo é imperativo.
“Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4,4). “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo” (I João 2,15-16). Estas palavras de Deus não estão diante de nós para nossa consideração; estão aí para nossa obediência, e não temos direito de nos intitularmos cristãos se não as seguimos.
Quanto a mim, temo qualquer tipo de movimento religioso entre os cristãos que não leve ao arrependimento, resultando numa aguda separação do cristão e o mundo. Suspeito de todo e qualquer esforço de avivamento organizado, que seja forçado a reduzir os duros termos do Reino. Não importa quão atraente pareça o movimento, se não se baseia na retidão e não é cuidado com humildade, não é de Deus.
Se explora a carne, é uma fraude religiosa e não deve receber apoio de nenhum cristão temente a Deus.
Só é de Deus aquele que honra o Espírito e prospera às expensas do ego humano. “Como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”.

com minha benção

Pe.Emílio Carlos+

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